sábado, 14 de fevereiro de 2015

Consolo

Crescem as demissões nas empresas envolvidas no escândalo da Petrobras. Trabalhadores demitidos têm o consolo de que poderão se reunir no Instituto Lula. Não Lula quem mais entende do assunto, tratando-se das vítimas de corrupção e, por extensão, do desemprego?

A reinvenção do governo que mira o futuro

No fragor da campanha eleitoral do ano passado uma manchete de jornal revelaria seu potencial demolidor de imagem, devido à riqueza de detalhes do contencioso envolvendo a Secretaria da Fazenda e o grupo Friboi. Como em política nada ocorre por acaso, percebeu-se logo que a informação abalaria os pilares de uma candidatura que se prenunciava forte. Ao retirar-se da disputa o pretenso candidato ao governo pelo PMDB, Júnior Friboi atribuiu o recuo à “sanha incontida” de Iris Rezende pelo poder. A alegação era um pretexto. O fato de vir a público a grande dívida do grupo ao Estado pôs às claras o clima carregado da disputa eleitoral e acabou por provocar o apagão do candidato-alvo. O discurso dele era todo centrado na falta de seriedade do governo. Sua proposta era instalar-se no cargo para inaugurar uma nova aurora de eficiência e moralidade. A bomba jornalística pulverizou uma proposta que se pretendia moralmente inexpugnável. Com a aproximação do dia da eleição em segundo turno o que emissários de Júnior Friboi verbalizavam, em termos de simpatia pela candidatura Marconi Perillo, insinuava um processo de convergência de interesses difusos. Eles se evidenciariam depois, consagrando a máxima de que política e negócios são atividades interdependentes. Se Júnior Friboi não trabalhou ostensivamente pela vitória de Marconi, importa registrar que seu grupo empresarial fez doações à campanha tucana, fez críticas ao candidato do PMDB e jamais desautorizou seus seguidores de prosseguirem com prognósticos a favor da vitória de Marconi. Aqueles fatos só ganharam nitidez quando outra manchete (Diário da Manhã) surgiu em torno do mesmo tema: a dívida do grupo, ou melhor, a monumental sonegação até então preservada do conhecimento público. A informação de que o grupo havia quitado uma dívida de R$ 1,3 bilhão que, com um generoso “deságio”, fora reduzida para R$ 320 milhões, jogou luz sobre os subterrâneos da campanha passada e ainda deve produzir consequências na campanha de 2018, caso haja reincidência em termos de aventura eleitoral. As ilações são inevitáveis. Agora já se sabe por que uma candidatura fora abortada, as doações foram feitas e declarações de simpatia pela reeleição do tucano foram abundantes, além dos petardos dirigidos ao companheiro Iris Rezende. Aliás, naquela altura da campanha, companheiros já eram outros. Os que estenderam a mão a um pacto, que levariam a um entendimento em torno de dívidas fiscais e maneiras especiais de quitá-las. No desdobramento da última manchete foram revelados os detalhes de um arranjo feito em tempo recorde e discrição máxima para que o alvo da bonomia oficial fosse contemplado. Os pormenores vieram a público reforçando ainda mais a convicção de argutos observadores de que não há almoço grátis em política. Todo o arranjo legal, revelado em artigo no Popular, se processou no vácuo de um singular momento, quando véspera de Natal, feriados alongados, pontos facultativos e fim de ano galvanizaram a atenção da sociedade, alheia ao que se passava na Assembleia Legislativa. A agilidade na tramitação e aprovação de um projeto de lei que ampliaria as facilidades do Programa de Incentivo à Regularização Fiscal de Empresas em Goiás foi o talhe perfeito para uma costura feita sob rigorosa medida. Enfim, consumou-se uma operação com todas as tintas de um negócio ideal. Por ideal entende-se um negócio em que ambas as partes saem ganhando. Feito um balanço da operação, vê-se que o arranjo reveste-se do verniz da legalidade, com a chancela legítima de um Parlamento atento ao interesse público. Afinal, o que se recolheu aos cofres públicos, ainda que seja uma pequena fração de uma grande dívida, fora imediatamente creditado à conta dos servidores estaduais que não mereciam a pena de ficar sem o salário de dezembro do ano passado. Quão fortes são as razões para que o Parlamento seja compreendido no seu espírito de solidariedade para com o funcionalismo! E quão tênue é a linha que separa o espírito público dos interesses privados! Para o grupo Friboi foi um bom negócio, dos tantos que os grandes grupos fazem com os diversos governos e as mais variadas instituições de créditos. O exemplo vem de cima, pois é o BNDES o melhor parceiro de operações financeiras quando do outro lado do balcão está um grande grupo e que, para ostentar seu porte, converte-se também em grande doador de campanha eleitoral, sem discriminação partidária. Não se pode dizer que não foi também um bom negócio para a outra parte. É fundamental perceber que operação de tamanho porte gera vantagens não só financeiras, mas também políticas. Estas, porém, exigem lentes especiais para serem detectadas. São vantagens que geram efeitos imediatos e conseqüências a longo prazo, tempo suficiente para que os resíduos de “entendimentos” celebrados em dias de feriados se diluem. A notícia vinda à tona pode ser lida também como uma espécie de ultimato para o amanhã. Ela traz implícita a advertência àquele que está identificado no epicentro de operação. Uma nova disputa eleitoral pode ser um risco, tal a natureza controversa do negócio. E só é controverso porque deixou de ser segredo. E só deixou de ser segredo para se revelar como estratégia política fulminante: além de detonar candidatura no nascedouro vai desestimular seu recrudescimento futuro, pois surgiria contaminada pelo passado. A propósito: o segredo não é a alma do negócio? Quem ganha, quem perde, com as últimas revelações?

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

AOS CAROS VEREADORES


Lamento a ausência do amigo Kleber Adorno na próxima legislatura municipal. Lamento pela não eleição de Liorcino Mendes, e por alguns outros. Comemoro a eleição de Fábio Torkarsky. É garantia de que a Câmara Municipal crescerá eticamente. Me pergunto quanto de mérito possui um candidato que atinge a marca de 12 mil votos e tem em seu currículo a proeza de ter sido um dos idealizadores do ano de 15 meses na folha de pagamento dos vereadores.
Certamente este rapaz, que se apresentou como astro de cinema, deve ter muitos méritos e um forte poder de persuasão para conquistar tantos votos.
Vamos ver o que ele tem a oferecer à sociedade, sabendo-se que um deslize tão expressivo em seu currículo dificilmente se apagará com o cumprimento de seus deveres, já que conquistou novamente o apoio do eleitorado.
Quanto ao jogador Túlio, que faça quantos gols puder, mas saiba compreender que o espaço democrático que acaba de conquistar não pode ser confundido. Que ele faça na Câmara seu gol de placa:contribuir para melhorar a imagem da Casa, Triste imagem, diga-se em louvor à coerência do julgamento.
Sobre a chegada ali do cidadão-gari Negro Jobs vale destacar sua coragem para enfrentar o preconceito e ir à luta; sua dignidade para conquistar um mandato, em meio a tantas dificuldades; sua vitória como resgate parcial de uma dívida histórica que a sociedade tem para com sua gente.
A todos os vereadores que acabam de obter o endosso popular, ganhando o status de autoridade pública, um lembrete: a honestidade do político é como a válvula de segurança nas usinas atômicas. Em hipótese alguma pode faltar. Lá, sua falta resulta em tragédias ambientais e humanas. Na política, sua falta é a causa de uma sucessão de tragédias morais Brasil afora. Já não basta?

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

FIM DA ESTRADA

É o ritmo da carruagem que conduz à conclusão: será mais fácil para Sandes Júnior (candidato a prefeito de Goiânia) e Marlúcio Pereira (candidato a prefeito de Aparecida) aprenderem a tocar piano por correspondência de que reverterem a situação.

INOCENTE ÚTIL,NÃO



Nada sei sobre Bertold Brecht mas não sobreviveria como profissional sem seus ensinamentos. Sei que sou um analfabeto político, porém, a autocrítica já um bom começo para se dar um efetivo passo rumo ao enfrentamento das nossas limitações culturais. Sem mais nem porque foi a cobertura política que me atraiu, assim que desvencilhei-me da condição de editor internacional. Foi a minha estréia na redação de O Popular, após um desafiador teste de aptidão, sob o rigor e o sarcasmo do editor-chefe Wagner de Góes. O rigor foi fundamental para minha afirmação profissional e o sarcasmo foi imprescindível para que eu, psicologicamente, percebesse a segurança com que Wagner agia no sentido de obrigar-me a um constante processo de autocrítica, de humildade e de perseverança no embate diário contra minha insignificância em meio às “feras” do texto e do status profissional, habitantes exclusivos daquele privilegiado espaço: avenida Goiás, 345, 3º andar. Com que orgulho eu ali aportei, ao perceber estar ingressando na verdadeira faculdade do jornalismo! Indescritível a sensação, inesquecíveis as lições do dia-a-dia que avançava pela madrugada naquela catedral, digo, redação. Citar nomes daqueles a quem devo a gratidão por inúmeras razões é temeroso, mas vou arriscar, não para excluir os muitos a quem prestaria reverências, apenas por imperativo de consciência: a Hélio Rocha devo tudo pelo pouco que sei sobre texto, sobre o foco, sob a hierarquia dos fatos e sobre a alma dos fatos. A Walder de Góes (irmão de Wagner, meu primeiro mestre) devo a paixão pela cobertura política. Na sua irreverência de repórter de inteligência incomum me inspirei não para imitá-lo, mas para absorver suas lições. Políticos de todos os matizes acorriam à redação não para dar entrevistas, mas para conhecer o pensamento de Walder. Presenciei memoráveis encontros, quando Walder desmitificava com o verbo e sua ácida verve seu interlocutor, que dali saía despido na sua jactância mas agradecido pela aula maquiavélica. As gargalhadas do competente e professoral Haroldo de Brito, testemunha daqueles encontros, explicariam melhor o que tento dizer aqui. Além de ser o âncora de todos que o procuravam, Hélio se doava intelectualmente ainda mais: honrava a todos os focas com a sua boa companhia extra-redação, com hora para iniciar e sem hora para terminar. E tome madrugada de bons porres, primeiramente culturais e jornalísticos. Obrigado, Hélio Rocha. Obrigado, Domiciano de Faria. Suas ponderações e observações foram igualmente fundamentais.
Quando imaginava já ter visto e absorvido tudo no universo do jornalismo, outra vez fui brindado pelo vento benfazejo da sorte. Juntei-me à brava equipe pioneira do recém-nascido Diário da Manhã. Em outra oportunidade falarei do quanto evolui profissional e humanisticamente à sobra do visionário e revolucionário Batista Custódio.
Voltando a Bertold Brecht, só posso agradecer o fato de censurar os que se orgulham de não gostar de política. Gostar ou não é uma outra história. Lutar contra seus limites culturais para não ser mais um inocente útil é o que importa. Felizmente, ainda há tempo de se beber na fonte generosa de Brecht, cuja primeira lição é não se fartar na ignorância de dizer orgulhosamente “detesto política”. Todos devemos detestar não a política como instrumento de Poder, ou ferramenta de manipulação das massas, mas o que os políticos fazem e por que fazem para chegar ao Poder e como nos prejudicam quando não têm o discernimento de usar o Poder para o bem de todos e felicidade geral da sociedade a que pertencemos. Nós, como eleitores. Eles, como atores. Quanto mais se insiste em ignorar a política, mas correremos o risco de os atores confundirem joio e trigo. Por enquanto, há mais joio de que trigo. Isto porque, muitos de nós ainda não assimilamos tudo que Brecht quis nos ensinar. Se baixarmos a guarda, os vendilhões darão mais um passo à frente, nos relegando ao papel de ingênuos expectadores.

domingo, 14 de setembro de 2008

QUARTO PODER OU LAVANDERIA?



Não sei se ainda podemos conceder à imprensa o direito de vangloriar-se de ser o quarto poder. Esse status prevaleceu por muito tempo. Se considerarmos a força que o Ministério Público adquiriu, com a Constituição de 1988, já fomos (a imprensa) desbancada. E não vai aqui nenhuma crítica ao MP, pelo contrário. Louvo a ação do Ministério Público, mas discordo de alguns excessos. Se formos levar em conta também a argumentação de alguns juízes, no sentido de proibir jornais de veicularem determinadas matérias que causariam prejuízos políticos aos candidatos, também discordo.
A proibição é censura pura e simples. Contra nossos excessos e eventuais irresponsabilidades, há a Lei. Somos alvos de processos por calúnia, difamação, etc. e etc. Para este modesto jornalista, pouco importa se já não somos mais o quarto poder.
O papel relevante da imprensa, especialmente do jornalismo impresso, numa democracia, está mais para lavanderia. Com muito orgulho faço parte dela, nos limites de minha experiência e competência, ou pela ausência de ambas. O que importa é que estamos dispostos a expor diariamente para o público a roupa suja das autoridades, sejam políticos em exercício do mandato, sejam agentes públicos extrapolando de seu dever, fazendo a sociedade pagar, com dor e indignação pelas suas irresponsabilidades.
Nos últimos dias os jornais diários não economizaram esforços para expressar a indignação da sociedade quanto o ato brutal que ceifou a vida de um jovem, no desabrochar de sua carreira profissional (advogado) e no encanto de sua vida familiar, ao lado do filho e da esposa.
Em seguida tivemos todos – a sociedade – de se perguntar indignada qual é o limite da desfaçatez de nossos “representantes” no Legislativo. A Câmara Municipal nos surpreendeu, não pela mais recente derrapada – criando um ano de 15 meses na folha de pagamento dos vereadores – mas pela incapacidade de se conectar com o sentimento da população.
Retorno ao poder da imprensa. Tenho a grata satisfação de fazer parte do setor “lavanderia” e convoco meus companheiros de duras jornadas – pois trabalho até aos domingos (são 13 horas quando finalizo este comentário) a não desanimarem. De braços dados com ponderáveis parcelas da população, ainda capaz de se indignar com a violência e com o desrespeito ao erário, dentre outros absurdos, podemos estabelecer nosso código de conduta.
Vamos continuar expondo a roupa suja das “autoridades” para depois lavá-las publicamente, no melhor dos detergentes: a informação isenta com o endosso de toda a sociedade.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

PP PERDE A INOCÊNCIA




No comando do governo o PP perdeu a inocência e passou a atuar em duas frentes de forma ostensiva, isto é, nada dissimulada. Administrativamente, o governador exerceu seu papel, partindo da premissa de que herdara um Estado com suas finanças altamente comprometidas, restando a ele explicitar seus desafios de caixa e justificar sua política de contenção. Ao ecoar suas angústias e apreensões, transferiu ao governo anterior a autoria de todos os problemas encontrados, abrindo a perspectiva de que seria o destinatário natural das conquistas anunciadas, para o futuro, tão logo superasse os entraves administrativo herdados. Coube ao mago das finanças, Jorcelino Braga traduzir essa realidade de forma direta, fechando o cofre e lançando mão de um torniquete na contenção dos gastos e ampliação dos mecanismos de arrecadação, com revisão e intervenção nos critérios de incentivos, dentre outras alquimias para sair do sufoco.
O próximo passo do PP, com certeza, será perder a ambigüidade, retomando o caminho inicial de sua até então opaca trajetória, só conquistando direito a generosos espaços na mídia tão logo ascendeu ao Poder. Equivale a dizer que, contabilizado o resultado eleitoral, o PP se convencerá de que fora da aliança, responsável pelo seu revigoramento, não haverá salvação.
A rigor, essa percepção já chegou à cúpula partidária, extraindo do governador sucessivas declarações de que o caminho natural do PP é mesmo permanecer no condomínio partidário que o fez, primeiro, coadjuvante, depois protagonista. Não se contava mesmo com a possibilidade de que o PP, assim como os demais partidos, fugisse ao figurino. Nenhum partido cultiva a memória afetiva, seguindo linearmente um caminho previsível a partir de opções políticas ditadas por razões sentimentais, manifestação de gratidão, ou apego às leis da reciprocidade. Por isso, as desavenças e trocas de farpas entre PP e PSDB pontuaram o início do governo, mas não roubam dos partidos o senso comum de que sobreviver é preciso.
Razão única que os impele rumo às mais surpreendentes alianças, dependendo da ocasião, sem perder de vista todas as conseqüências de cada decisão.
O foco no PP é pela tempestividade com que ele se revelou, uma vez alcançado o topo, ou seja, ao assumir o posto político de maior relevância no Estado. Passada a euforia, a realidade vai se desenhando à sua frente, recomendando mais cautela nos atos e nas declarações. Aquela hipótese aventada lá atrás, de que um terceiro eixo poderia surgir em Goiás tendo o PP como principal elemento catalisador dos grupos deslocados na aliança ou bolsões de resistência à liderança cristalizada no senador Marconi Perillo, parece ter sido descartada ou pelo menos perde força a cada dia. Aquele fervor individualista ou grupista, levado adiante pelas renitentes declarações de seu presidente Sérgio Caiado , também dá sinais de exaustão. Compreende-se que fora tentadora a oportunidade, no início do governo, para aqueles que, supondo dispor de poderes aracnídios iniciaram a tentativa de tecer uma diabólica trama, no sentido de transformar em adversários no futuro os rivais de hoje e que foram indispensáveis aliados de ontem. Passado o clima de euforia, as partes em divergências se convencem de que fora da aliança há pouca esperança de expansão de seus tentáculos de poder, até porque do outro lado não é menor a ambição e nem convém subestimar a experiência dos que já foram governo e hoje se cacifam para retomar o controle do Estado. A regra neste emaranhado de interesses grupais é clara: político ingênuo não existe. O que existe são eleitores de boa fé, sempre pronto a eleger seu líder, tenha ele poucos ou muitos defeitos, mas o que importa é o carisma, acrescido da imagem de liderança cinco estrelas. Poucos, muito poucos, ascendem à constelação.
O governador está no curso de uma administração cuja fase mais desafiadora já dá sinais de ter sido superada, cabendo a ele agora obter a marca de seu governo no volume de obras e benefícios que legará à população, com o rótulo exclusivo do alcidismo. Há pela frente o ano 2009, que se supõe promissor, seja política, seja administrativamente. Isto porque o PP tende a ampliar seus tentáculos no interior,contabilizando vitórias para arvorar-se de parceiro com peso político igual ao PSDB. No plano administrativo, a sagacidade do governador de cultivar a boa relação com o governo Lula deverá se converter em transferências mais generosas de recursos num ano decisivo para os resultados das eleições de 2010, quando a presidência da República exerce forte influência nas disputas estaduais, levando ao paroxismo a máxima do “é dando que se recebe”. O governador, certamente, olha essa quadra de sua administração com a consciência de que todos os interesses de seu partido estarão mais preservados num espaço onde ele nasceu, cresceu e floresceu com a chegada de seu principal nome ao governo. Enquanto ele amadurece a tomada de posição, com fortes indícios de que permanecerá na aliança que o projetou ao topo estadual, ao presidente do PP cabe fazer a interface para a prevalência da frente que até agora, por força da aglutinação, deu sucessivas provas de que a união os torna invencíveis. Essa percepção é a premissa da qual parte o PSDB para advogar a causa da unidade desde os primeiros dias da nova administração, que chegou com suas idiossincrasias e com direito a identificar e assumir sua própria marca. Assimiladas as diferenças, estão os dois lados, aparentemente, em busca das semelhanças.As mesmas que os uniram há muito tempo.

domingo, 31 de agosto de 2008

DO CAOS NOSSO DE CADA DIA, NOS LIVRAI HOJE


Após uma semana em meio ao burburinho de uma vibrante redação de jornal, o indomável Diário da Manhã, comemorei o domingo de folga à maneira de todo trabalhador. Dou apenas coerência à minha trajetória de quem, aos sete anos, vendia frutas e verduras para aumentar a renda familiar. Bendita infância de quem assimila o valor do trabalho honesto em tão tenra idade.
Bem, conclui: se vou descansar no domingo, nada melhor que pagar a promessa de visitar um amigo de longa data a igual ausência, pelo meu temor de que visita sem agenda prévia sempre atrapalha. Terei para ele a desculpa de que, por falta de tempo, só poderia fazê-lo hoje, domingo.
Saí de casa com o fervor religioso de quem, antes de ir para as ruas engraxar sapatos, aos domingos, tinha que ir à missa. Adaptei o credo da infância provinciana às agrúrias urbanas de hoje. “Do caos nosso de cada dia, nos livrai hoje”. Domingo, poucos carros circulando, a desobstrução da T-63 na ordem do dia, que problema teria eu de sair de um extremo da cidade (lado sul) indo rumo oeste, impregnar-me dos bons conhecimentos de um amigo, caráter sem jaça e intelectual cinco estrelas? Animal raro em paisagem densa de outros bichos.
Quando me vi em pleno início da T-63, sentido leste-oeste, não tive dúvidas: todos os motoristas de Goiânia tiveram a mesma idéia, não sei se embalados pela mesma crença de que domingo poucos gostam de sair de casa.
Melhor é concluir que nunca mais “nunca aos domingos”. Todos os dias são iguais. O caos no trânsito é nosso onipotente atestado de que somos visceralmente urbanos. Talvez esteja na hora de se criar um slogan para a cidade: “Goiânia precisa parar”.
São Paulo que abraçou o bordão “não pode parar”, já parou.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Escrevendo pelas orelhas

Cia das Letras, 192 págs.


Nem Mahmoud Ahmadinejad, o lunático presidente iraniano que insiste em negar a existência do holocausto, pode negligenciar o fato de que, ao menos nas artes, o suplício dos judeus resultou em um acervo considerável de bons trabalhos. Recentemente, a tentativa da escola de samba Viradouro e de seu carnavalesco Paulo Barros de retratar na avenida o que se passou nos campos de concentração nazistas foi parar nos tribunais, e o desfecho se deu com a justiça proibindo carnaval de rimar com Solução Final. Na literatura, são fartas as obras alusivas ao tema. O irlandês John Boyne, em O menino do pijama listrado, foge do que parece ter sido a regra desde então por eleger como protagonista não um judeu, mas um garoto alemão filho de um oficial para quem o Führer tinha “grandes planos”. Depois de deixar Berlin, o garoto Bruno se depara com uma cerca diante de sua casa, e a partir daí a história se desenrola.

A narração em terceira pessoa com a perspectiva infantil municia Boyne de uma crítica ao absurdo do contexto nazista, mas a tentação a que sucumbe o autor de falar através da criança direciona o leitor a reflexões nem sempre tão verossímeis quando se trata do universo de um menino de nove anos. Tem-se a impressão de que a sensibilidade de Bruno, personagem moralmente quase intocado pela doutrinação fascistóide que o cercava, é meticulosamente arquitetada, embora este seja um elemento imprescindível para história. Os sofrimentos dos prisioneiros submetidos às sevícias e aos pijamas listrados são suavizados e em muitos trechos agravados pela ótica infantil.

Há um projeto já em andamento de adaptação do livro para o cinema. Pode surgir daí uma obra de valor e que pela perspectiva do menino alemão será posta em paralelo com livro (também tornado filme) O Tambor, a narração fantástica do Nobel de 1999 Günter Grass. Poderá ser ainda um contraponto a Josué, o menino judeu de A vida é bela do estrepitoso Roberto Benigni, mais famoso por aqui por ter levado a estatueta de ouro que por pouco não fica com Central do Brasil.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

UM NÃO PEDAGÓGICO

Continuo não entendendo a razão de tanta gente criticar o STF por não ter atendido à expectativa dos juizes que, através da AMB, tentaram barrar a candidatura dos “fichas sujas”. Bem, até onde alcança a vista desse modesto eleitor aqui, o papel de sanear a representatividade política cabe ao eleitor. Basta que ele exerça, de fato e de direito, seu poder de cidadão. Ora, o que o STF fez, reitero, é delegar mais poderes ao eleitor. É ele é quem tem a obrigação cívica de filtrar o ingresso dos “representantes do povo” nas casas legislativas. Não basta votar, é preciso saber em quem votar. O não do Supremo foi o que se pode chamar de ato pedagógico.

VOU DE POMBO CORREIO

Nunca se falou tanto em grampos telefônicos. Nunca as hipóteses e suposições foram tão respaldadas em fatos concretos. Do STF aos menores escalões do poder público; das grandes às pequenas empresas e dos mais aos menos influentes profissionais nas diversas categorias estão todos sob o risco da bisbilhotagem. Há um certo fascínio na arte de xeretar a vida alheia.

Já tomei minhas precauções. Tenho um amigo columbófilo e já disponho de um pombo correio. Antes, obtive um atestado de que a ave é absolutamente confiável. Minha dúvida agora é sobre a lisura do atestado.

VAMOS E CONVENHAMOS

De fato, a pluralidade de candidatos fortalece a democracia e também o livre debate. A existência da oposição é imprescindível. O conflito civilizado das correntes de opinião é vital. Tudo bem, mas sejamos práticos: transformar a candidatura Íris Rezende em massa de pão servirá a quem? A candidatura de Íris atingiu aquele estágio de uma massa bem sorvida de fermento. Quanto mais se bate, mais ela cresce.

TUDO TEM LIMITE

Concordo. O debate é livre tanto quanto é livre o candidato para fazer suas propostas, mas sem exagero. Só falta algum candidato garantir ao eleitor casa, comida e roupa lavada. Vá lá que alguém ouse, mas se der direito a acompanhante, aí já é caso para cassação por configurar atentado aos bons costumes.


DNA UDENISTA

Muitos colegas de profissão me perguntam de onde vem tanto rancor que o suplente de deputado Sérgio Caiado (PP) demonstra ter pelo senador Marconi Perillo. O que sei é que Marconi, no governo, prestigiou Sérgio, inaugurando uma obra na sua principal base eleitoral no dia em que o ex-deputado comemorava aniversário. Isto sem falar no apoio de Marconi para Sérgio se eleger deputado ou assumir, como suplente.

ELE MERECE

Gostaria de dispor de condições financeiras para ajudar o jornalista/radialista Liorcino chegar à Câmara. Também gostaria de ver seus colegas de profissão defendendo sua candidatura. Como cidadão e como profissional Liorcino ajudará a elevar o nível do debate na Câmara. Conheço-o muito bem e o respeito como ser humano e como profissional.

SER CONSUMIDOR É UM MARTÍRIO


Depois do advento do computador, internet, banda larga, etc. etc. tivemos a doce ilusão que a vida iria melhorar. Quer saber? Tudo ficou pior. Penso em voltar para máquina de escrever. Não há um só dia que não nos defrontamos com o descaso da Brasiltelecom, do provedor Uol. Enfim, estamos nas mãos dos cartéis do setor. Deixei de ter tv a cabo por não suportar o desrespeito da empresa. Que liberdade temos para produzir se dependemos do humor e da boa vontade dos fornecedores dos serviços básicos para que possamos trabalhar com a informática? Eles aumentam os preços das tarifas quando querem, nos atendem quando querem e nós ficamos com a cara de palhaços. Quanta ilusão a nossa! Que liberdade é essa? Começo a perceber que a velocidade da internet ficou mais lenta. Talvez seja mais um artifício para você adquirir a outra, a mais veloz. Com o tempo ela também fica mais devagar, e assim teremos que optar pela outra, mais veloz, mais cara naturalmente.

É provável que esse blog saia novamente e temporariamente (se Deus o permitir) do ar, até que eu arranje um outro provedor. A UOL descumpriu o contrato e aumentou a mensalidade. Não vou aceitar. Tentarei o diálogo, se e quando conseguir um contato telefônico. Quanta ilusão imaginar que o direito do consumidor é respeitado! Nunca foi nem nunca será.

sábado, 16 de agosto de 2008

SOLUÇÃO À BRASILEIRA

Essa lei que amplia o tempo em que a mãe, empregada, deve ficar com o filho recém-nascido tem dois objetivos: estreitar o mercado de trabalho para as mulheres e forçar o controle da natalidade. Se a mulher quiser mesmo um emprego deverá desistir de se engravidar. Se a mulher quiser ser mãe, deverá desistir de procurar emprego.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

DE VOLTA À REALIDADE



As pesquisas estão hoje para a tomada de decisões políticas assim como a bússola estava para os argonautas que singravam os mares nunca dantes navegados. Nada se faz sem antes ter o balizamento das causas e conseqüências de cada ato, aferido pelas indispensáveis pesquisas. Só os marinheiros de primeira viagem, no deslumbramento do poder, preconizavam o desmonte de uma coalizão que, no movimento oscilante das marés políticas, os trouxeram à tona após longo período de submersão.

Ela, a pesquisa, está no cerne de um movimento de refluxo que, no momento, empresta à base aliada as feições de uma frente harmônica, atenta aos movimentos expansionistas do PMDB. Ainda pelas pesquisas, o possível recrudescimento da oposição em fornidos colégios eleitorais tem efeito duplo: motiva o partido de Íris a olhar com otimismo 2010 e fornece elementos indutores para a reunificação de uma base, ainda hegemônica, até há pouco fragmentada e sob a ameaça de irreversíveis cisões.

O refluxo é patente. Os dois principais nomes da base – o governador Alcides Rodrigues e o senador Marconi Perillo – passam a ter a clareza de que, divididos, fornecerão grandes manchetes aos jornais, mas, principalmente, darão aos adversários o melhor dos cenários para um sucesso eleitoral na disputa pelo controle do Executivo estadual.

Então, não tenhamos dúvidas, as pesquisas, sejam quais forem seus resultados, determinam as tomadas de decisões políticas e retiram dos mais açodados a tendência ao endurecimento de posições ditadas por interesses mais imediatos ou menos abrangentes do ponto de vista da aglutinação das correntes, adversárias no varejo e aliadas no atacado.

Uma delas, feita sob medida e para efeito de se palmilhar com boa margem de segurança um caminho definitivo, teve resultado impactante no desmonte de um cenário de fantasias para a exposição de uma crua realidade: dividida, a ainda cognominada base aliada seria mandada ao limbo; reunificada em torno da liderança que tem fortíssimas chances de vitória em 2010, todos se salvam. Uns, porque dispõem de forte cacife político; outros, porque se beneficiam pela circunstância de que têm poder de barganha para sentarem-se à mesa de negociações.

Resultados surpreendentes da pesquisa fizeram arrefecer o impulso desagregador de grupos que condicionavam sua sobrevivência ao sepultamento das legítimas lideranças com as quais comungam poucas afinidades e, por paradoxal que pareça, sem elas deixariam de existir. Nada como a alternância nos cargos de comando para que se veja pelo halo da transparência quem tem capacidade de liderança e quem tem pouca habilidade para lidar com as contradições inerentes ao exercício do poder. Não fosse pela tolerância de um e experiência do outro, nem a orientação da bússola somada ao fascínio dos números das pesquisas salvaria a base aliada de um naufrágio eleitoral.

O silêncio dos fariseus e o esforço conjunto que se processa em nome de uma definitiva unificação das correntes evidenciam a força dos números de uma pesquisa que devolveu a todos o senso da realidade. Só há esperança de sobrevivência política de todos, ainda que adversários circunstanciais, através do fortalecimento de uma liderança politicamente sólida, popularmente incontestável. Foi esse o dado que mais avultou no conjunto dos números surpreendentes de uma bem guardada pesquisa. Mais do que a surpresa, os números revelam força de demover as vozes dissonantes e desestimular as ações desagregadoras. É a prevalência do bom-senso motivando o consenso.