segunda-feira, 22 de setembro de 2008
FIM DA ESTRADA
É o ritmo da carruagem que conduz à conclusão: será mais fácil para Sandes Júnior (candidato a prefeito de Goiânia) e Marlúcio Pereira (candidato a prefeito de Aparecida) aprenderem a tocar piano por correspondência de que reverterem a situação.
INOCENTE ÚTIL,NÃO
Nada sei sobre Bertold Brecht mas não sobreviveria como profissional sem seus ensinamentos. Sei que sou um analfabeto político, porém, a autocrítica já um bom começo para se dar um efetivo passo rumo ao enfrentamento das nossas limitações culturais. Sem mais nem porque foi a cobertura política que me atraiu, assim que desvencilhei-me da condição de editor internacional. Foi a minha estréia na redação de O Popular, após um desafiador teste de aptidão, sob o rigor e o sarcasmo do editor-chefe Wagner de Góes. O rigor foi fundamental para minha afirmação profissional e o sarcasmo foi imprescindível para que eu, psicologicamente, percebesse a segurança com que Wagner agia no sentido de obrigar-me a um constante processo de autocrítica, de humildade e de perseverança no embate diário contra minha insignificância em meio às “feras” do texto e do status profissional, habitantes exclusivos daquele privilegiado espaço: avenida Goiás, 345, 3º andar. Com que orgulho eu ali aportei, ao perceber estar ingressando na verdadeira faculdade do jornalismo! Indescritível a sensação, inesquecíveis as lições do dia-a-dia que avançava pela madrugada naquela catedral, digo, redação. Citar nomes daqueles a quem devo a gratidão por inúmeras razões é temeroso, mas vou arriscar, não para excluir os muitos a quem prestaria reverências, apenas por imperativo de consciência: a Hélio Rocha devo tudo pelo pouco que sei sobre texto, sobre o foco, sob a hierarquia dos fatos e sobre a alma dos fatos. A Walder de Góes (irmão de Wagner, meu primeiro mestre) devo a paixão pela cobertura política. Na sua irreverência de repórter de inteligência incomum me inspirei não para imitá-lo, mas para absorver suas lições. Políticos de todos os matizes acorriam à redação não para dar entrevistas, mas para conhecer o pensamento de Walder. Presenciei memoráveis encontros, quando Walder desmitificava com o verbo e sua ácida verve seu interlocutor, que dali saía despido na sua jactância mas agradecido pela aula maquiavélica. As gargalhadas do competente e professoral Haroldo de Brito, testemunha daqueles encontros, explicariam melhor o que tento dizer aqui. Além de ser o âncora de todos que o procuravam, Hélio se doava intelectualmente ainda mais: honrava a todos os focas com a sua boa companhia extra-redação, com hora para iniciar e sem hora para terminar. E tome madrugada de bons porres, primeiramente culturais e jornalísticos. Obrigado, Hélio Rocha. Obrigado, Domiciano de Faria. Suas ponderações e observações foram igualmente fundamentais.
Quando imaginava já ter visto e absorvido tudo no universo do jornalismo, outra vez fui brindado pelo vento benfazejo da sorte. Juntei-me à brava equipe pioneira do recém-nascido Diário da Manhã. Em outra oportunidade falarei do quanto evolui profissional e humanisticamente à sobra do visionário e revolucionário Batista Custódio.
Voltando a Bertold Brecht, só posso agradecer o fato de censurar os que se orgulham de não gostar de política. Gostar ou não é uma outra história. Lutar contra seus limites culturais para não ser mais um inocente útil é o que importa. Felizmente, ainda há tempo de se beber na fonte generosa de Brecht, cuja primeira lição é não se fartar na ignorância de dizer orgulhosamente “detesto política”. Todos devemos detestar não a política como instrumento de Poder, ou ferramenta de manipulação das massas, mas o que os políticos fazem e por que fazem para chegar ao Poder e como nos prejudicam quando não têm o discernimento de usar o Poder para o bem de todos e felicidade geral da sociedade a que pertencemos. Nós, como eleitores. Eles, como atores. Quanto mais se insiste em ignorar a política, mas correremos o risco de os atores confundirem joio e trigo. Por enquanto, há mais joio de que trigo. Isto porque, muitos de nós ainda não assimilamos tudo que Brecht quis nos ensinar. Se baixarmos a guarda, os vendilhões darão mais um passo à frente, nos relegando ao papel de ingênuos expectadores.
domingo, 14 de setembro de 2008
QUARTO PODER OU LAVANDERIA?
Não sei se ainda podemos conceder à imprensa o direito de vangloriar-se de ser o quarto poder. Esse status prevaleceu por muito tempo. Se considerarmos a força que o Ministério Público adquiriu, com a Constituição de 1988, já fomos (a imprensa) desbancada. E não vai aqui nenhuma crítica ao MP, pelo contrário. Louvo a ação do Ministério Público, mas discordo de alguns excessos. Se formos levar em conta também a argumentação de alguns juízes, no sentido de proibir jornais de veicularem determinadas matérias que causariam prejuízos políticos aos candidatos, também discordo.
A proibição é censura pura e simples. Contra nossos excessos e eventuais irresponsabilidades, há a Lei. Somos alvos de processos por calúnia, difamação, etc. e etc. Para este modesto jornalista, pouco importa se já não somos mais o quarto poder.
O papel relevante da imprensa, especialmente do jornalismo impresso, numa democracia, está mais para lavanderia. Com muito orgulho faço parte dela, nos limites de minha experiência e competência, ou pela ausência de ambas. O que importa é que estamos dispostos a expor diariamente para o público a roupa suja das autoridades, sejam políticos em exercício do mandato, sejam agentes públicos extrapolando de seu dever, fazendo a sociedade pagar, com dor e indignação pelas suas irresponsabilidades.
Nos últimos dias os jornais diários não economizaram esforços para expressar a indignação da sociedade quanto o ato brutal que ceifou a vida de um jovem, no desabrochar de sua carreira profissional (advogado) e no encanto de sua vida familiar, ao lado do filho e da esposa.
Em seguida tivemos todos – a sociedade – de se perguntar indignada qual é o limite da desfaçatez de nossos “representantes” no Legislativo. A Câmara Municipal nos surpreendeu, não pela mais recente derrapada – criando um ano de 15 meses na folha de pagamento dos vereadores – mas pela incapacidade de se conectar com o sentimento da população.
Retorno ao poder da imprensa. Tenho a grata satisfação de fazer parte do setor “lavanderia” e convoco meus companheiros de duras jornadas – pois trabalho até aos domingos (são 13 horas quando finalizo este comentário) a não desanimarem. De braços dados com ponderáveis parcelas da população, ainda capaz de se indignar com a violência e com o desrespeito ao erário, dentre outros absurdos, podemos estabelecer nosso código de conduta.
Vamos continuar expondo a roupa suja das “autoridades” para depois lavá-las publicamente, no melhor dos detergentes: a informação isenta com o endosso de toda a sociedade.
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
PP PERDE A INOCÊNCIA
No comando do governo o PP perdeu a inocência e passou a atuar em duas frentes de forma ostensiva, isto é, nada dissimulada. Administrativamente, o governador exerceu seu papel, partindo da premissa de que herdara um Estado com suas finanças altamente comprometidas, restando a ele explicitar seus desafios de caixa e justificar sua política de contenção. Ao ecoar suas angústias e apreensões, transferiu ao governo anterior a autoria de todos os problemas encontrados, abrindo a perspectiva de que seria o destinatário natural das conquistas anunciadas, para o futuro, tão logo superasse os entraves administrativo herdados. Coube ao mago das finanças, Jorcelino Braga traduzir essa realidade de forma direta, fechando o cofre e lançando mão de um torniquete na contenção dos gastos e ampliação dos mecanismos de arrecadação, com revisão e intervenção nos critérios de incentivos, dentre outras alquimias para sair do sufoco.
O próximo passo do PP, com certeza, será perder a ambigüidade, retomando o caminho inicial de sua até então opaca trajetória, só conquistando direito a generosos espaços na mídia tão logo ascendeu ao Poder. Equivale a dizer que, contabilizado o resultado eleitoral, o PP se convencerá de que fora da aliança, responsável pelo seu revigoramento, não haverá salvação.
A rigor, essa percepção já chegou à cúpula partidária, extraindo do governador sucessivas declarações de que o caminho natural do PP é mesmo permanecer no condomínio partidário que o fez, primeiro, coadjuvante, depois protagonista. Não se contava mesmo com a possibilidade de que o PP, assim como os demais partidos, fugisse ao figurino. Nenhum partido cultiva a memória afetiva, seguindo linearmente um caminho previsível a partir de opções políticas ditadas por razões sentimentais, manifestação de gratidão, ou apego às leis da reciprocidade. Por isso, as desavenças e trocas de farpas entre PP e PSDB pontuaram o início do governo, mas não roubam dos partidos o senso comum de que sobreviver é preciso.
Razão única que os impele rumo às mais surpreendentes alianças, dependendo da ocasião, sem perder de vista todas as conseqüências de cada decisão.
O foco no PP é pela tempestividade com que ele se revelou, uma vez alcançado o topo, ou seja, ao assumir o posto político de maior relevância no Estado. Passada a euforia, a realidade vai se desenhando à sua frente, recomendando mais cautela nos atos e nas declarações. Aquela hipótese aventada lá atrás, de que um terceiro eixo poderia surgir em Goiás tendo o PP como principal elemento catalisador dos grupos deslocados na aliança ou bolsões de resistência à liderança cristalizada no senador Marconi Perillo, parece ter sido descartada ou pelo menos perde força a cada dia. Aquele fervor individualista ou grupista, levado adiante pelas renitentes declarações de seu presidente Sérgio Caiado , também dá sinais de exaustão. Compreende-se que fora tentadora a oportunidade, no início do governo, para aqueles que, supondo dispor de poderes aracnídios iniciaram a tentativa de tecer uma diabólica trama, no sentido de transformar em adversários no futuro os rivais de hoje e que foram indispensáveis aliados de ontem. Passado o clima de euforia, as partes em divergências se convencem de que fora da aliança há pouca esperança de expansão de seus tentáculos de poder, até porque do outro lado não é menor a ambição e nem convém subestimar a experiência dos que já foram governo e hoje se cacifam para retomar o controle do Estado. A regra neste emaranhado de interesses grupais é clara: político ingênuo não existe. O que existe são eleitores de boa fé, sempre pronto a eleger seu líder, tenha ele poucos ou muitos defeitos, mas o que importa é o carisma, acrescido da imagem de liderança cinco estrelas. Poucos, muito poucos, ascendem à constelação.
O governador está no curso de uma administração cuja fase mais desafiadora já dá sinais de ter sido superada, cabendo a ele agora obter a marca de seu governo no volume de obras e benefícios que legará à população, com o rótulo exclusivo do alcidismo. Há pela frente o ano 2009, que se supõe promissor, seja política, seja administrativamente. Isto porque o PP tende a ampliar seus tentáculos no interior,contabilizando vitórias para arvorar-se de parceiro com peso político igual ao PSDB. No plano administrativo, a sagacidade do governador de cultivar a boa relação com o governo Lula deverá se converter em transferências mais generosas de recursos num ano decisivo para os resultados das eleições de 2010, quando a presidência da República exerce forte influência nas disputas estaduais, levando ao paroxismo a máxima do “é dando que se recebe”. O governador, certamente, olha essa quadra de sua administração com a consciência de que todos os interesses de seu partido estarão mais preservados num espaço onde ele nasceu, cresceu e floresceu com a chegada de seu principal nome ao governo. Enquanto ele amadurece a tomada de posição, com fortes indícios de que permanecerá na aliança que o projetou ao topo estadual, ao presidente do PP cabe fazer a interface para a prevalência da frente que até agora, por força da aglutinação, deu sucessivas provas de que a união os torna invencíveis. Essa percepção é a premissa da qual parte o PSDB para advogar a causa da unidade desde os primeiros dias da nova administração, que chegou com suas idiossincrasias e com direito a identificar e assumir sua própria marca. Assimiladas as diferenças, estão os dois lados, aparentemente, em busca das semelhanças.As mesmas que os uniram há muito tempo.
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