quarta-feira, 8 de outubro de 2008

AOS CAROS VEREADORES


Lamento a ausência do amigo Kleber Adorno na próxima legislatura municipal. Lamento pela não eleição de Liorcino Mendes, e por alguns outros. Comemoro a eleição de Fábio Torkarsky. É garantia de que a Câmara Municipal crescerá eticamente. Me pergunto quanto de mérito possui um candidato que atinge a marca de 12 mil votos e tem em seu currículo a proeza de ter sido um dos idealizadores do ano de 15 meses na folha de pagamento dos vereadores.
Certamente este rapaz, que se apresentou como astro de cinema, deve ter muitos méritos e um forte poder de persuasão para conquistar tantos votos.
Vamos ver o que ele tem a oferecer à sociedade, sabendo-se que um deslize tão expressivo em seu currículo dificilmente se apagará com o cumprimento de seus deveres, já que conquistou novamente o apoio do eleitorado.
Quanto ao jogador Túlio, que faça quantos gols puder, mas saiba compreender que o espaço democrático que acaba de conquistar não pode ser confundido. Que ele faça na Câmara seu gol de placa:contribuir para melhorar a imagem da Casa, Triste imagem, diga-se em louvor à coerência do julgamento.
Sobre a chegada ali do cidadão-gari Negro Jobs vale destacar sua coragem para enfrentar o preconceito e ir à luta; sua dignidade para conquistar um mandato, em meio a tantas dificuldades; sua vitória como resgate parcial de uma dívida histórica que a sociedade tem para com sua gente.
A todos os vereadores que acabam de obter o endosso popular, ganhando o status de autoridade pública, um lembrete: a honestidade do político é como a válvula de segurança nas usinas atômicas. Em hipótese alguma pode faltar. Lá, sua falta resulta em tragédias ambientais e humanas. Na política, sua falta é a causa de uma sucessão de tragédias morais Brasil afora. Já não basta?

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

FIM DA ESTRADA

É o ritmo da carruagem que conduz à conclusão: será mais fácil para Sandes Júnior (candidato a prefeito de Goiânia) e Marlúcio Pereira (candidato a prefeito de Aparecida) aprenderem a tocar piano por correspondência de que reverterem a situação.

INOCENTE ÚTIL,NÃO



Nada sei sobre Bertold Brecht mas não sobreviveria como profissional sem seus ensinamentos. Sei que sou um analfabeto político, porém, a autocrítica já um bom começo para se dar um efetivo passo rumo ao enfrentamento das nossas limitações culturais. Sem mais nem porque foi a cobertura política que me atraiu, assim que desvencilhei-me da condição de editor internacional. Foi a minha estréia na redação de O Popular, após um desafiador teste de aptidão, sob o rigor e o sarcasmo do editor-chefe Wagner de Góes. O rigor foi fundamental para minha afirmação profissional e o sarcasmo foi imprescindível para que eu, psicologicamente, percebesse a segurança com que Wagner agia no sentido de obrigar-me a um constante processo de autocrítica, de humildade e de perseverança no embate diário contra minha insignificância em meio às “feras” do texto e do status profissional, habitantes exclusivos daquele privilegiado espaço: avenida Goiás, 345, 3º andar. Com que orgulho eu ali aportei, ao perceber estar ingressando na verdadeira faculdade do jornalismo! Indescritível a sensação, inesquecíveis as lições do dia-a-dia que avançava pela madrugada naquela catedral, digo, redação. Citar nomes daqueles a quem devo a gratidão por inúmeras razões é temeroso, mas vou arriscar, não para excluir os muitos a quem prestaria reverências, apenas por imperativo de consciência: a Hélio Rocha devo tudo pelo pouco que sei sobre texto, sobre o foco, sob a hierarquia dos fatos e sobre a alma dos fatos. A Walder de Góes (irmão de Wagner, meu primeiro mestre) devo a paixão pela cobertura política. Na sua irreverência de repórter de inteligência incomum me inspirei não para imitá-lo, mas para absorver suas lições. Políticos de todos os matizes acorriam à redação não para dar entrevistas, mas para conhecer o pensamento de Walder. Presenciei memoráveis encontros, quando Walder desmitificava com o verbo e sua ácida verve seu interlocutor, que dali saía despido na sua jactância mas agradecido pela aula maquiavélica. As gargalhadas do competente e professoral Haroldo de Brito, testemunha daqueles encontros, explicariam melhor o que tento dizer aqui. Além de ser o âncora de todos que o procuravam, Hélio se doava intelectualmente ainda mais: honrava a todos os focas com a sua boa companhia extra-redação, com hora para iniciar e sem hora para terminar. E tome madrugada de bons porres, primeiramente culturais e jornalísticos. Obrigado, Hélio Rocha. Obrigado, Domiciano de Faria. Suas ponderações e observações foram igualmente fundamentais.
Quando imaginava já ter visto e absorvido tudo no universo do jornalismo, outra vez fui brindado pelo vento benfazejo da sorte. Juntei-me à brava equipe pioneira do recém-nascido Diário da Manhã. Em outra oportunidade falarei do quanto evolui profissional e humanisticamente à sobra do visionário e revolucionário Batista Custódio.
Voltando a Bertold Brecht, só posso agradecer o fato de censurar os que se orgulham de não gostar de política. Gostar ou não é uma outra história. Lutar contra seus limites culturais para não ser mais um inocente útil é o que importa. Felizmente, ainda há tempo de se beber na fonte generosa de Brecht, cuja primeira lição é não se fartar na ignorância de dizer orgulhosamente “detesto política”. Todos devemos detestar não a política como instrumento de Poder, ou ferramenta de manipulação das massas, mas o que os políticos fazem e por que fazem para chegar ao Poder e como nos prejudicam quando não têm o discernimento de usar o Poder para o bem de todos e felicidade geral da sociedade a que pertencemos. Nós, como eleitores. Eles, como atores. Quanto mais se insiste em ignorar a política, mas correremos o risco de os atores confundirem joio e trigo. Por enquanto, há mais joio de que trigo. Isto porque, muitos de nós ainda não assimilamos tudo que Brecht quis nos ensinar. Se baixarmos a guarda, os vendilhões darão mais um passo à frente, nos relegando ao papel de ingênuos expectadores.

domingo, 14 de setembro de 2008

QUARTO PODER OU LAVANDERIA?



Não sei se ainda podemos conceder à imprensa o direito de vangloriar-se de ser o quarto poder. Esse status prevaleceu por muito tempo. Se considerarmos a força que o Ministério Público adquiriu, com a Constituição de 1988, já fomos (a imprensa) desbancada. E não vai aqui nenhuma crítica ao MP, pelo contrário. Louvo a ação do Ministério Público, mas discordo de alguns excessos. Se formos levar em conta também a argumentação de alguns juízes, no sentido de proibir jornais de veicularem determinadas matérias que causariam prejuízos políticos aos candidatos, também discordo.
A proibição é censura pura e simples. Contra nossos excessos e eventuais irresponsabilidades, há a Lei. Somos alvos de processos por calúnia, difamação, etc. e etc. Para este modesto jornalista, pouco importa se já não somos mais o quarto poder.
O papel relevante da imprensa, especialmente do jornalismo impresso, numa democracia, está mais para lavanderia. Com muito orgulho faço parte dela, nos limites de minha experiência e competência, ou pela ausência de ambas. O que importa é que estamos dispostos a expor diariamente para o público a roupa suja das autoridades, sejam políticos em exercício do mandato, sejam agentes públicos extrapolando de seu dever, fazendo a sociedade pagar, com dor e indignação pelas suas irresponsabilidades.
Nos últimos dias os jornais diários não economizaram esforços para expressar a indignação da sociedade quanto o ato brutal que ceifou a vida de um jovem, no desabrochar de sua carreira profissional (advogado) e no encanto de sua vida familiar, ao lado do filho e da esposa.
Em seguida tivemos todos – a sociedade – de se perguntar indignada qual é o limite da desfaçatez de nossos “representantes” no Legislativo. A Câmara Municipal nos surpreendeu, não pela mais recente derrapada – criando um ano de 15 meses na folha de pagamento dos vereadores – mas pela incapacidade de se conectar com o sentimento da população.
Retorno ao poder da imprensa. Tenho a grata satisfação de fazer parte do setor “lavanderia” e convoco meus companheiros de duras jornadas – pois trabalho até aos domingos (são 13 horas quando finalizo este comentário) a não desanimarem. De braços dados com ponderáveis parcelas da população, ainda capaz de se indignar com a violência e com o desrespeito ao erário, dentre outros absurdos, podemos estabelecer nosso código de conduta.
Vamos continuar expondo a roupa suja das “autoridades” para depois lavá-las publicamente, no melhor dos detergentes: a informação isenta com o endosso de toda a sociedade.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

PP PERDE A INOCÊNCIA




No comando do governo o PP perdeu a inocência e passou a atuar em duas frentes de forma ostensiva, isto é, nada dissimulada. Administrativamente, o governador exerceu seu papel, partindo da premissa de que herdara um Estado com suas finanças altamente comprometidas, restando a ele explicitar seus desafios de caixa e justificar sua política de contenção. Ao ecoar suas angústias e apreensões, transferiu ao governo anterior a autoria de todos os problemas encontrados, abrindo a perspectiva de que seria o destinatário natural das conquistas anunciadas, para o futuro, tão logo superasse os entraves administrativo herdados. Coube ao mago das finanças, Jorcelino Braga traduzir essa realidade de forma direta, fechando o cofre e lançando mão de um torniquete na contenção dos gastos e ampliação dos mecanismos de arrecadação, com revisão e intervenção nos critérios de incentivos, dentre outras alquimias para sair do sufoco.
O próximo passo do PP, com certeza, será perder a ambigüidade, retomando o caminho inicial de sua até então opaca trajetória, só conquistando direito a generosos espaços na mídia tão logo ascendeu ao Poder. Equivale a dizer que, contabilizado o resultado eleitoral, o PP se convencerá de que fora da aliança, responsável pelo seu revigoramento, não haverá salvação.
A rigor, essa percepção já chegou à cúpula partidária, extraindo do governador sucessivas declarações de que o caminho natural do PP é mesmo permanecer no condomínio partidário que o fez, primeiro, coadjuvante, depois protagonista. Não se contava mesmo com a possibilidade de que o PP, assim como os demais partidos, fugisse ao figurino. Nenhum partido cultiva a memória afetiva, seguindo linearmente um caminho previsível a partir de opções políticas ditadas por razões sentimentais, manifestação de gratidão, ou apego às leis da reciprocidade. Por isso, as desavenças e trocas de farpas entre PP e PSDB pontuaram o início do governo, mas não roubam dos partidos o senso comum de que sobreviver é preciso.
Razão única que os impele rumo às mais surpreendentes alianças, dependendo da ocasião, sem perder de vista todas as conseqüências de cada decisão.
O foco no PP é pela tempestividade com que ele se revelou, uma vez alcançado o topo, ou seja, ao assumir o posto político de maior relevância no Estado. Passada a euforia, a realidade vai se desenhando à sua frente, recomendando mais cautela nos atos e nas declarações. Aquela hipótese aventada lá atrás, de que um terceiro eixo poderia surgir em Goiás tendo o PP como principal elemento catalisador dos grupos deslocados na aliança ou bolsões de resistência à liderança cristalizada no senador Marconi Perillo, parece ter sido descartada ou pelo menos perde força a cada dia. Aquele fervor individualista ou grupista, levado adiante pelas renitentes declarações de seu presidente Sérgio Caiado , também dá sinais de exaustão. Compreende-se que fora tentadora a oportunidade, no início do governo, para aqueles que, supondo dispor de poderes aracnídios iniciaram a tentativa de tecer uma diabólica trama, no sentido de transformar em adversários no futuro os rivais de hoje e que foram indispensáveis aliados de ontem. Passado o clima de euforia, as partes em divergências se convencem de que fora da aliança há pouca esperança de expansão de seus tentáculos de poder, até porque do outro lado não é menor a ambição e nem convém subestimar a experiência dos que já foram governo e hoje se cacifam para retomar o controle do Estado. A regra neste emaranhado de interesses grupais é clara: político ingênuo não existe. O que existe são eleitores de boa fé, sempre pronto a eleger seu líder, tenha ele poucos ou muitos defeitos, mas o que importa é o carisma, acrescido da imagem de liderança cinco estrelas. Poucos, muito poucos, ascendem à constelação.
O governador está no curso de uma administração cuja fase mais desafiadora já dá sinais de ter sido superada, cabendo a ele agora obter a marca de seu governo no volume de obras e benefícios que legará à população, com o rótulo exclusivo do alcidismo. Há pela frente o ano 2009, que se supõe promissor, seja política, seja administrativamente. Isto porque o PP tende a ampliar seus tentáculos no interior,contabilizando vitórias para arvorar-se de parceiro com peso político igual ao PSDB. No plano administrativo, a sagacidade do governador de cultivar a boa relação com o governo Lula deverá se converter em transferências mais generosas de recursos num ano decisivo para os resultados das eleições de 2010, quando a presidência da República exerce forte influência nas disputas estaduais, levando ao paroxismo a máxima do “é dando que se recebe”. O governador, certamente, olha essa quadra de sua administração com a consciência de que todos os interesses de seu partido estarão mais preservados num espaço onde ele nasceu, cresceu e floresceu com a chegada de seu principal nome ao governo. Enquanto ele amadurece a tomada de posição, com fortes indícios de que permanecerá na aliança que o projetou ao topo estadual, ao presidente do PP cabe fazer a interface para a prevalência da frente que até agora, por força da aglutinação, deu sucessivas provas de que a união os torna invencíveis. Essa percepção é a premissa da qual parte o PSDB para advogar a causa da unidade desde os primeiros dias da nova administração, que chegou com suas idiossincrasias e com direito a identificar e assumir sua própria marca. Assimiladas as diferenças, estão os dois lados, aparentemente, em busca das semelhanças.As mesmas que os uniram há muito tempo.

domingo, 31 de agosto de 2008

DO CAOS NOSSO DE CADA DIA, NOS LIVRAI HOJE


Após uma semana em meio ao burburinho de uma vibrante redação de jornal, o indomável Diário da Manhã, comemorei o domingo de folga à maneira de todo trabalhador. Dou apenas coerência à minha trajetória de quem, aos sete anos, vendia frutas e verduras para aumentar a renda familiar. Bendita infância de quem assimila o valor do trabalho honesto em tão tenra idade.
Bem, conclui: se vou descansar no domingo, nada melhor que pagar a promessa de visitar um amigo de longa data a igual ausência, pelo meu temor de que visita sem agenda prévia sempre atrapalha. Terei para ele a desculpa de que, por falta de tempo, só poderia fazê-lo hoje, domingo.
Saí de casa com o fervor religioso de quem, antes de ir para as ruas engraxar sapatos, aos domingos, tinha que ir à missa. Adaptei o credo da infância provinciana às agrúrias urbanas de hoje. “Do caos nosso de cada dia, nos livrai hoje”. Domingo, poucos carros circulando, a desobstrução da T-63 na ordem do dia, que problema teria eu de sair de um extremo da cidade (lado sul) indo rumo oeste, impregnar-me dos bons conhecimentos de um amigo, caráter sem jaça e intelectual cinco estrelas? Animal raro em paisagem densa de outros bichos.
Quando me vi em pleno início da T-63, sentido leste-oeste, não tive dúvidas: todos os motoristas de Goiânia tiveram a mesma idéia, não sei se embalados pela mesma crença de que domingo poucos gostam de sair de casa.
Melhor é concluir que nunca mais “nunca aos domingos”. Todos os dias são iguais. O caos no trânsito é nosso onipotente atestado de que somos visceralmente urbanos. Talvez esteja na hora de se criar um slogan para a cidade: “Goiânia precisa parar”.
São Paulo que abraçou o bordão “não pode parar”, já parou.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Escrevendo pelas orelhas

Cia das Letras, 192 págs.


Nem Mahmoud Ahmadinejad, o lunático presidente iraniano que insiste em negar a existência do holocausto, pode negligenciar o fato de que, ao menos nas artes, o suplício dos judeus resultou em um acervo considerável de bons trabalhos. Recentemente, a tentativa da escola de samba Viradouro e de seu carnavalesco Paulo Barros de retratar na avenida o que se passou nos campos de concentração nazistas foi parar nos tribunais, e o desfecho se deu com a justiça proibindo carnaval de rimar com Solução Final. Na literatura, são fartas as obras alusivas ao tema. O irlandês John Boyne, em O menino do pijama listrado, foge do que parece ter sido a regra desde então por eleger como protagonista não um judeu, mas um garoto alemão filho de um oficial para quem o Führer tinha “grandes planos”. Depois de deixar Berlin, o garoto Bruno se depara com uma cerca diante de sua casa, e a partir daí a história se desenrola.

A narração em terceira pessoa com a perspectiva infantil municia Boyne de uma crítica ao absurdo do contexto nazista, mas a tentação a que sucumbe o autor de falar através da criança direciona o leitor a reflexões nem sempre tão verossímeis quando se trata do universo de um menino de nove anos. Tem-se a impressão de que a sensibilidade de Bruno, personagem moralmente quase intocado pela doutrinação fascistóide que o cercava, é meticulosamente arquitetada, embora este seja um elemento imprescindível para história. Os sofrimentos dos prisioneiros submetidos às sevícias e aos pijamas listrados são suavizados e em muitos trechos agravados pela ótica infantil.

Há um projeto já em andamento de adaptação do livro para o cinema. Pode surgir daí uma obra de valor e que pela perspectiva do menino alemão será posta em paralelo com livro (também tornado filme) O Tambor, a narração fantástica do Nobel de 1999 Günter Grass. Poderá ser ainda um contraponto a Josué, o menino judeu de A vida é bela do estrepitoso Roberto Benigni, mais famoso por aqui por ter levado a estatueta de ouro que por pouco não fica com Central do Brasil.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

UM NÃO PEDAGÓGICO

Continuo não entendendo a razão de tanta gente criticar o STF por não ter atendido à expectativa dos juizes que, através da AMB, tentaram barrar a candidatura dos “fichas sujas”. Bem, até onde alcança a vista desse modesto eleitor aqui, o papel de sanear a representatividade política cabe ao eleitor. Basta que ele exerça, de fato e de direito, seu poder de cidadão. Ora, o que o STF fez, reitero, é delegar mais poderes ao eleitor. É ele é quem tem a obrigação cívica de filtrar o ingresso dos “representantes do povo” nas casas legislativas. Não basta votar, é preciso saber em quem votar. O não do Supremo foi o que se pode chamar de ato pedagógico.

VOU DE POMBO CORREIO

Nunca se falou tanto em grampos telefônicos. Nunca as hipóteses e suposições foram tão respaldadas em fatos concretos. Do STF aos menores escalões do poder público; das grandes às pequenas empresas e dos mais aos menos influentes profissionais nas diversas categorias estão todos sob o risco da bisbilhotagem. Há um certo fascínio na arte de xeretar a vida alheia.

Já tomei minhas precauções. Tenho um amigo columbófilo e já disponho de um pombo correio. Antes, obtive um atestado de que a ave é absolutamente confiável. Minha dúvida agora é sobre a lisura do atestado.

VAMOS E CONVENHAMOS

De fato, a pluralidade de candidatos fortalece a democracia e também o livre debate. A existência da oposição é imprescindível. O conflito civilizado das correntes de opinião é vital. Tudo bem, mas sejamos práticos: transformar a candidatura Íris Rezende em massa de pão servirá a quem? A candidatura de Íris atingiu aquele estágio de uma massa bem sorvida de fermento. Quanto mais se bate, mais ela cresce.

TUDO TEM LIMITE

Concordo. O debate é livre tanto quanto é livre o candidato para fazer suas propostas, mas sem exagero. Só falta algum candidato garantir ao eleitor casa, comida e roupa lavada. Vá lá que alguém ouse, mas se der direito a acompanhante, aí já é caso para cassação por configurar atentado aos bons costumes.


DNA UDENISTA

Muitos colegas de profissão me perguntam de onde vem tanto rancor que o suplente de deputado Sérgio Caiado (PP) demonstra ter pelo senador Marconi Perillo. O que sei é que Marconi, no governo, prestigiou Sérgio, inaugurando uma obra na sua principal base eleitoral no dia em que o ex-deputado comemorava aniversário. Isto sem falar no apoio de Marconi para Sérgio se eleger deputado ou assumir, como suplente.

ELE MERECE

Gostaria de dispor de condições financeiras para ajudar o jornalista/radialista Liorcino chegar à Câmara. Também gostaria de ver seus colegas de profissão defendendo sua candidatura. Como cidadão e como profissional Liorcino ajudará a elevar o nível do debate na Câmara. Conheço-o muito bem e o respeito como ser humano e como profissional.

SER CONSUMIDOR É UM MARTÍRIO


Depois do advento do computador, internet, banda larga, etc. etc. tivemos a doce ilusão que a vida iria melhorar. Quer saber? Tudo ficou pior. Penso em voltar para máquina de escrever. Não há um só dia que não nos defrontamos com o descaso da Brasiltelecom, do provedor Uol. Enfim, estamos nas mãos dos cartéis do setor. Deixei de ter tv a cabo por não suportar o desrespeito da empresa. Que liberdade temos para produzir se dependemos do humor e da boa vontade dos fornecedores dos serviços básicos para que possamos trabalhar com a informática? Eles aumentam os preços das tarifas quando querem, nos atendem quando querem e nós ficamos com a cara de palhaços. Quanta ilusão a nossa! Que liberdade é essa? Começo a perceber que a velocidade da internet ficou mais lenta. Talvez seja mais um artifício para você adquirir a outra, a mais veloz. Com o tempo ela também fica mais devagar, e assim teremos que optar pela outra, mais veloz, mais cara naturalmente.

É provável que esse blog saia novamente e temporariamente (se Deus o permitir) do ar, até que eu arranje um outro provedor. A UOL descumpriu o contrato e aumentou a mensalidade. Não vou aceitar. Tentarei o diálogo, se e quando conseguir um contato telefônico. Quanta ilusão imaginar que o direito do consumidor é respeitado! Nunca foi nem nunca será.

sábado, 16 de agosto de 2008

SOLUÇÃO À BRASILEIRA

Essa lei que amplia o tempo em que a mãe, empregada, deve ficar com o filho recém-nascido tem dois objetivos: estreitar o mercado de trabalho para as mulheres e forçar o controle da natalidade. Se a mulher quiser mesmo um emprego deverá desistir de se engravidar. Se a mulher quiser ser mãe, deverá desistir de procurar emprego.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

DE VOLTA À REALIDADE



As pesquisas estão hoje para a tomada de decisões políticas assim como a bússola estava para os argonautas que singravam os mares nunca dantes navegados. Nada se faz sem antes ter o balizamento das causas e conseqüências de cada ato, aferido pelas indispensáveis pesquisas. Só os marinheiros de primeira viagem, no deslumbramento do poder, preconizavam o desmonte de uma coalizão que, no movimento oscilante das marés políticas, os trouxeram à tona após longo período de submersão.

Ela, a pesquisa, está no cerne de um movimento de refluxo que, no momento, empresta à base aliada as feições de uma frente harmônica, atenta aos movimentos expansionistas do PMDB. Ainda pelas pesquisas, o possível recrudescimento da oposição em fornidos colégios eleitorais tem efeito duplo: motiva o partido de Íris a olhar com otimismo 2010 e fornece elementos indutores para a reunificação de uma base, ainda hegemônica, até há pouco fragmentada e sob a ameaça de irreversíveis cisões.

O refluxo é patente. Os dois principais nomes da base – o governador Alcides Rodrigues e o senador Marconi Perillo – passam a ter a clareza de que, divididos, fornecerão grandes manchetes aos jornais, mas, principalmente, darão aos adversários o melhor dos cenários para um sucesso eleitoral na disputa pelo controle do Executivo estadual.

Então, não tenhamos dúvidas, as pesquisas, sejam quais forem seus resultados, determinam as tomadas de decisões políticas e retiram dos mais açodados a tendência ao endurecimento de posições ditadas por interesses mais imediatos ou menos abrangentes do ponto de vista da aglutinação das correntes, adversárias no varejo e aliadas no atacado.

Uma delas, feita sob medida e para efeito de se palmilhar com boa margem de segurança um caminho definitivo, teve resultado impactante no desmonte de um cenário de fantasias para a exposição de uma crua realidade: dividida, a ainda cognominada base aliada seria mandada ao limbo; reunificada em torno da liderança que tem fortíssimas chances de vitória em 2010, todos se salvam. Uns, porque dispõem de forte cacife político; outros, porque se beneficiam pela circunstância de que têm poder de barganha para sentarem-se à mesa de negociações.

Resultados surpreendentes da pesquisa fizeram arrefecer o impulso desagregador de grupos que condicionavam sua sobrevivência ao sepultamento das legítimas lideranças com as quais comungam poucas afinidades e, por paradoxal que pareça, sem elas deixariam de existir. Nada como a alternância nos cargos de comando para que se veja pelo halo da transparência quem tem capacidade de liderança e quem tem pouca habilidade para lidar com as contradições inerentes ao exercício do poder. Não fosse pela tolerância de um e experiência do outro, nem a orientação da bússola somada ao fascínio dos números das pesquisas salvaria a base aliada de um naufrágio eleitoral.

O silêncio dos fariseus e o esforço conjunto que se processa em nome de uma definitiva unificação das correntes evidenciam a força dos números de uma pesquisa que devolveu a todos o senso da realidade. Só há esperança de sobrevivência política de todos, ainda que adversários circunstanciais, através do fortalecimento de uma liderança politicamente sólida, popularmente incontestável. Foi esse o dado que mais avultou no conjunto dos números surpreendentes de uma bem guardada pesquisa. Mais do que a surpresa, os números revelam força de demover as vozes dissonantes e desestimular as ações desagregadoras. É a prevalência do bom-senso motivando o consenso.


terça-feira, 12 de agosto de 2008

A CRÍTICA E A RESSALVA

Em meu e-mail muitos aplausos à nota “Opte pelo expurgo” . Vou me reportar tão-somente a quem discordou. Deolinda, obrigado pela crítica. Só ressalto que focalizei os dois candidatos do ponto de vista moral, na condição de homens que exerceram funções públicas e nunca foram acusados de improbidade. Não tenho dúvida do fundamento de suas críticas que, rigorosamente, não os questionam moralmente. Reitero que ressaltei as qualidades deles e tenho absoluta certeza de que Torkarski e Kleber darão substancial contribuição à melhoria da imagem da Câmara Municipal. São políticos probos e competentes.

domingo, 10 de agosto de 2008

OPTE PELO EXPURGO

Nem tudo está perdido. O eleitorado tem a oportunidade de contribuir direta e decisivamente para melhorar, ou melhor, descontaminar a representatividade da Câmara Municipal. Os ex-deputados Fábio Torkarski e Kleber Adorno são candidatos a vereador. Ambos têm inúmeras qualidades para representar os interesses da sociedade. Ademais, são donos de densa bagagem cultural, são políticos diferenciados pela biografia que os engrandecem e pelo trabalho que já prestaram nas diversas funções públicas que exerceram.

Desnecessário é dizer que a Câmara, assim como a Assembléia, têm sido vítima de um contínuo processo de empobrecimento de seus quadros, sejam pela baixa qualificação da maioria, seja tendência de transformar o mandato popular em instrumento de benesses familiares. Isto para não se falar naqueles parlamentares ligados a lobbies com interesses ilegítimos. Torkarski e Kleber darão partida a um processo de reversão da Câmara, devolvendo-lhe a credibilidade. Não só eles, claro, mas eles principalmente. A presença de ambos na Casa já é o início de um expurgo dos desqualificados, levando-se em conta que serão duas cadeiras a menos à disposição de eventuais edis imbecis.

POBRE CLASSE MÉDIA

Pelos critérios do Instituto de Pesquisa econômica Aplicada a classe média se expandiu horizontalmente. Considerar classe média o cidadão cujo salário representa pouco mais de mil reais por mês é apenas uma fantasia matemática capaz de fazer o governo do PT se sentir o salvador da pátria.

Pura ilusão, quando se sabe que o salário mínimo no Brasil é inferior aos países cujo PIB é insignificante perto do nosso. Sabe-se que Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai pagam salários mínimos muito superiores ao dos brasileiros.

STF DÁ FORÇA AO VOTO

Está havendo muita confusão sobre os chamados candidatos “ficha suja”. Não discordo da decisão do STF, pois só o cidadão julgado e condenado deve ser banido de seu direito de disputar eleições. Sou contra igualar cidadãos. Por exemplo: Paulo Maluf não pode ser colocado na mesma condição de um cidadão que é acusado de improbidade por um adversário político. A decisão do STF dá ao eleitor a autoridade e legitimidade para que seja ele, somente ele, do alto de sua soberania de cidadão livre para votar, a instância julgadora.

Ora, ora, o que o Supremo faz é reforçar a força do voto soberano do povo. Se o povo não se informa e não vota pensando nos interesses da comunidade, acaba pagando o pato por votar segundo critérios fisiológicos, ilógicos e irracionais. Em política, tudo que se faz tem que se levar em conta o interesse coletivo, não o individual, ou familiar, ou grupal. É o eleitor que precisa ser esclarecido, por sua própria conta, para saber discernir.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Escrevendo pelas orelhas.

Ed. UFRJ/ 385 pgs.



Na quiromancia moderna, diariamente exercitada nas páginas de jornais, ou nos papers e teses acadêmicas, economistas e sociólogos veladamente disputam o posto de maiores portadores dos instrumentos racionais de leitura e interpretação da sociedade. A confluência entre as duas ciências, entretanto, paira acima das mesquinharias corporativistas. Na obra de Max Weber, que por direito é um dos pais fundadores das ciências sociais, a simbiose entre os dois campos foi tanta que chega a dificultar a vida de seus biógrafos mais criteriosos. Isso em razão do afinco com que o pensador alemão se dedicou à tarefa de estruturação de uma Sociologia Econômica. Os pressupostos dessa empreitada epistemológica jamais obedeceram a uma filiação exclusiva a qualquer um dos dois lados.

Bem antes de concluir A ética protestante e o espírito do capitalismo, que restaria como seu mais badalado legado, Weber se dedicou a um levantamento minucioso, dentre os quais se destaca História geral da Economia, livro resultante de curso ministrado na Universidade de Munique entre 1919-1920. Apesar das evidências que guiam estudiosos do trabalho de Weber nessa direção, o texto de Richard Swedberg, Max Weber e a idéia de Sociologia Econômica, tem sua dose de pioneirismo por centrar no compartimento de matriz econômica, não raramente tratado como adendo do trabalho sociológico weberiano. Professor na Universidade de Estocolmo, Swedberg situa o trabalho de Weber, formatado metodologicamente a partir da idéia de ação social, como uma tentativa contínua de localização das esferas de influência atuantes sobre os indivíduos, dentre elas a de cepa econômica.

Deliberadamente, todo o arcabouço de Weber rejeita o excessivo determinismo econômico de Marx, assim como não empresta a menor importância à teleologia do autor de O Capital, que insistia na idéia de um capitalismo com os dias contados. À sociedade Sociológica alemã, em 1910, Weber inclusive chega a dizer: “(...) a visão do materialismo histórico – adotada por muitos – de que o fator econômico é, de certa forma, o ponto máximo da cadeia causal está inteiramente desacreditada como proposição científica” (apud p. 108).

A ênfase do autor, como não poderia deixar de ser, não visa privilegiar a economia como ponto sobressalente da obra de Weber, mas soube dimensiona-la como um fio condutor a perpassar desde a sociologia da religião até a importância do estudo do direito entre os trabalhos pensador alemão.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Escrevendo pelas orelhas

Zahar/ 131 pgs.

Não é novidade a idéia de Shakespeare como o lídimo puxador (que o falecido Jamelão não nos ouça!) de toda uma linhagem européia de dramaturgos. Tampouco a imagem do gênio a perturbar modelos estéticos consagrados pode reivindicar pra si a condição de inovadora. Visto assim, panoramicamente, o texto de Pedro Süssekind, Shakespeare – O gênio original, apenas repisa láureas já há muito concedidas ao autor de Hamlet. A ênfase do livro, entretanto, está muito mais nas repercussões do autor inglês na literatura alemã, gerando por vezes a branda impressão de que a obra de Shakespeare é somente o ponto de partida do autor. De gênio para gênio, Süssekind traça uma trajetória tão linear da influência de Shakespeare nos trabalhos de Goethe que até ressentiria qualquer chauvinismo literário germânico.

As construções em torno da mitologia do gênio no meio artístico são também suscitadas por Süssekind. Diuturnamente, o autor destrincha o movimento Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto, em português, em alusão ao título de uma peça de Friedrich Maximillan klinger), anunciador do Romantismo na Alemanha, e que mesclava uma veia filosoficamente iluminista com a rejeição ao padrão do Classicismo. Nos termos de Otto Maria Carpeaux, o lendário intelectual austríaco radicado no Brasil, encontra-se a síntese do mote de Pedro Süssekind: a literatura alemã divide-se entre o antes e depois de Shakespeare (p. 34). Ao excursionar pela notória influência deste inglês nos debates e rumos da alta-literatura germânica, vê-se que nem mesmo o sentido de produção autêntica nacional, em franca construção entre os literatos alemães dos séculos XVII e XVIII, pôde prescindir do legado produzido além do Canal da Mancha. Guardadas as devidas proporções e distorções, os arranjos artísticos ocorridos no Velho Continente quase desmerecem a criatividade inovadora dos modernistas tupiniquins de 1922. Por essas lentes, deglutir a cultura estrangeira a fim de processar o elemento nacional, conforme apregoava com fervor Oswald de Andrade, já era coisa muito bem assimilada pelos artistas do passado.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

O DNA DO MACHO

Estou plenamente de acordo com aquele filósofo grego:
“O homem que não sabe cozinhar não sabe amar”.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

CONFIDENCIAL


Há dias O Popular listou 304 cartórios extrajudiciais que, por determinação do Conselho Nacional de Justiça, terão de promover concurso público, sob a vigilância do Tribunal de Justiça, para a substituição dos atuais titulares. Um outro cartório estaria, segundo uma escrevente, sob o risco de um outro crivo. A fonte que voluntariamente narrou os fatos foi detalhista nas informações e fatalista nas previsões: “É caso para intervenção”.
No momento, o risco a que estão expostos seus patrões decorre, tão-somente, da incontinência verbal da fonte que se vangloria de estar de posse de robustas provas.



sexta-feira, 25 de julho de 2008

Escrevendo pelas orelhas

Bantam Classic/ 192 pgs.

Se o valor de um escritor - segundo adágio certamente já dito por alguém - pode ser medido pelo quilate de seus leitores, não é de todo errado supor o inverso: a resistência de alguns em ler determinado texto pode contribuir e muito para o prestígio da obra em questão e de seu autor. Por essa lógica, a importância de James Joyce como escritor pode ter sido, na visão de muitos, catapultada desde que Paulo Coelho, numa entrevista à Veja em 2001, tachou Ulisses e Finnegans Wake de “ilegíveis”.

O James Joyce de Dubliners, entretanto, ainda não é o dos mergulhos intimistas de Ulisses ou dos experimentalismos lingüísticos de Finnegangs Wake, embora nesta série de quinze contos já estejam presentes algumas idéias, e mais do que isso, personagens, redivivos pelos autor nas suas duas obras máximas. Sua cidade natal e seus habitantes, conterrâneos de Joyce, são expostos ao leitor com uma crueza embalada por caudalosos ressentimentos, como, aliás, foi sua relação com a Irlanda por toda sua vida. O jeito particular que o autor tem de cantar a própria aldeia é através dos tipos beberrões, grosseiros, e poltrões de diversos matizes, que emolduram o ambiente de atraso e “paralisia” que engessava os irlandeses. Os insultos de Joyce são sempre dirigidos à terra que nunca lhe emprestara o valor que ele julgava merecer, mesmo que, curiosamente, ele nunca tenha de fato ousado dela se desvencilhar por completo.

O intertexto entre algumas histórias no livro busca uma simetria sutil e só aparentemente despretensiosa. Já se encontra aqui uma urdidura fictícia própria de um artista ainda jovem – a ser posteriormente “retratado” em outro livro, A Portrait of the Artist as a Young Man - mas com pretensões já incomensuráveis para os limites da Irlanda. Em tempo: a edição da Bantam pode ser encarada por quem tem um inglês razoável. Não chega a ser ilegível, como quiseram alguns...

terça-feira, 22 de julho de 2008

CONSUMIDOR EM TELA

A eficiência como terapia.
Sou um consumidor sui generis. Levo ao extremo a resistência à compra a prazo. Se não posso pagar hoje, imagina amanhã! Desenvolvi também incomum capacidade de relacionar-me com a outra parte com muito respeito, na expectativa da recíproca, mais que recíproca. Afinal, quem deve conquistar quem? O papel de conquistador pertence mais a quem está do lado de dentro do balcão.De quem quer nos vender serviços, idéias, persuadir-nos das vantagens da transação, etc.

Fico fascinado com o bom atendimento. Portanto, a partir de agora o consumidor tem um espaço nobre nesta tela. Por justiça e por princípio, hoje quero ressaltar a qualidade do atendimento da Clínica São Marcelo. Fica na Av. Americano do Brasil, ali no areião (aquela ampla área verde no setor Pedro Ludovico).

Tive a sensação de estar no primeiro mundo. Cheguei, fui atendido prontamente por uma solícita secretária. Em questão de minutos já estava sendo levado para o local onde me submeteria a uma radiografia ou coisa parecida. O fato é que foi tudo muito rápido e imediatamente fui avisado de que deveria buscar o resultado no outro dia, em hora marcada. Fui para casa com a sensação de que a mentalidade dos profissionais em Goiânia está mudando e muito. Para melhor.

Na segunda ida ali constatei que minha expectativa fora superada. Na hora marcada, lá estava outra solícita atendente, pronta para me entregar o envelope. Além do mais, as instalações ali são confortáveis. De quebra, ao sair constatei que ao lado da clínica há um estacionamento privativo para os clientes. Veja bem: sou paciente do Ipasgo, não senti discriminação, muito menos má vontade do pessoal que me atendeu.

Recomendo aos amigos e aos milhares de leitores deste blog: faça como eu. Seja observador e exigente. Quando sou mal atendido, crio caso. Quando ocorre o contrário faço, por coerência, a propaganda. Não tenham dúvida: adoeçam ou façam chek-up preventivos, desde que ponham a Clínica São Marcelo em seus planos. Ali a cura vem, primeiro, pelo bom humor que você experimenta ao sentir-se respeitado.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

OLHA O GRAMPO AÍ, GENTE

Bem, pelo que se lê na grande imprensa a Polícia Federal entrou em roda-viva. Um grupo de policiais da PF teria sido espionado por outro grupo da mesma instituição, no curso da operação Satiagraha. Veja só! Se a coisa anda assim lá entre os grandes escalões, imagina nos escalões inferiores. O grampo de telefone, a propósito, está tão banalizado que, pelo menos para efeito de propagarem eficiência, alguns detetives particulares chegam mesmo a dispor de uma tabela de preços para serviços complexos de espionagem, com direito a escuta telefônica fora da lei. Já começo a acreditar na advertência que um amigo me fez há um ano. “Cuidado”, dizia ele, “muitos jornalistas estão grampeados e você pode ser um deles”. Respondi com irônica gargalhada. Que importância tenho para ter telefone “grampeado”.

Sabe-se lá por quê? Meu amigo sabe das coisas. Para reforçar suas suspeitas, narrou fatos e amizades para que ninguém possa subestimar suas fontes. Estou mais precavido. A linha de telefone fixo só serve mesmo para conectar a internet ou marcar encontros. Um homem prevenido vale por dois.

Em tempo: estou ao lado de 90% da população. Entre acreditar na versão do governo e no delegado da PF, Protógenes Queiroz, fico com este, duvidando, como sempre, daquele. É da tradição do governo Lula dispor de um estoque de versões, para um só fato. E quanto mais nebuloso o fato, mais versões chegam à mídia.

SEI O QUE VOCES ESCREVERAM ONTEM

Fiquei um bom tempo privado deste espaço. Ressabiado, estou tateando, cauteloso. Enquanto fiquei à margem consegui, pelo menos acessar a alguns blogs. Sou leitor fiel dos meus amigos blogueiros Wassil Oliveira, Afonso Lopes, Eduardo Horácio. Todos antenados com os acontecimentos e fiéis intérpretes dos fatos. Todos sabem que os fatos têm alma. Ainda bem.

Minha avidez para saber das coisas se estendia ao cotidiano dedicado aos colunistas e articulistas do DM e de O Popular e do Hoje. Estou aprendendo a administrar o tempo e racionalizar as leituras. Existem incontáveis blogs, muitos irresistíveis. Não há como não hierarquizá-los de acordo com nossas necessidades jornalísticas, culturais, e, inclusive, o precioso tempo. Então tá.

sábado, 19 de julho de 2008

DAQUI e DELÁ

É segredo empresarial, mas não é crime divulgá-lo. A J. Câmara encomendou pesquisa focada em segmentos importantes da sociedade de Anápolis.Objetivo: editar na grande cidade um novo diário, a exemplo do Daqui. Só que o próximo será DeLá.

O Instituto de Pesquisas Observatório entrou em campo para ouvir gente de fino trato, capaz de expressar opiniões sinceras a respeito da expectativa, receptividade e tempestividade do novo empreendimento editorial do grande grupo de comunicação. As antenas de Júnior Câmara se equiparam àquelas que captam sinais nas diversas galáxias e deixam a Nasa sempre sintonizada com o futuro.

OBRIGADO, DEOLINDA

Estou retornando aos poucos. Consegui, finalmente, abrir (sei lá como se chama aquilo) o local onde chegam os emails. Estou de acordo com o Unes, de O Popular. Esse negócio de "italicar" as expressões fora da língua-pátria é bobagem. Vamos implementar a reforma ortográfica já anunciada e dar nossa contribuição. Às favas tantas regras. Vamos ao conteúdo.
Olha, Deolinda, muito obrigado pela solidariedade e pela experiência a mim passada. Vamos, sim, fundar a associação dos lesados da Brasil Telecom, da Uol, e outras mais. Vou tentar novos parceiros, pois nunca fui tão desrespeitado nos meus direitos desde quando inventaram esse, como é mesmo? serviço de telemarketing? , sei lá... Até hoje só não reclamo da pontualidade na entrega dos jornais dos quais sou assinante: Diário da Manhâ e O Popular. Eles me respeitam como comprodores de seus produtos. Como se vê, as exceções existem.
Como as coisas para nós consumidores se tornaram tão difíceis, quando tudo pareceria mais fácil com o advento da internet, da barra de leitura, etc.. É tudo um resumo de tormento à distância. Já observou que para cumprirmos nossos deveres é só ir a um banco e pagar as taxas? Se não pagar, lá vem a lei, impiedosa e a gente tem que pagar com juros, não importa se a outra parte não cumpriu o combinado. Depois ficamos com a cara de palhaço, sem ter a quem apelar. Vamos nos interagir e buscar soluções, ok? Comunique-se.

DIGA-ME COM QUEM ANDAS...

Imagino que o candidato a prefeito Maguito Vilela está se lixando para o que eu penso. Aliás, ele tem até o direito de pensar que eu não penso. Ainda assim atrevo-me. Direito é direito. Ele pensa o que quiser do senador José Sarney. Eu também. Essa história de trazer o ex-presidente José Sarney para reforço de sua candidatura pode ser, como diria Vicente Matheus, falecido dirigente do Corinthians, “faca de dois legumes”.

O que liga Sarney a Goiás é a lembrança da asfixia que seu governo promoveu contra o governador Henrique Santillo. Por confiar na promessa do governo federal, Santillo implementou o PPA – aquele projeto que permitiu asfaltar todas as entradas das cidades, ligando-as às rodovias. Santillo fez uso de recursos estaduais confiando na compensação prometida. Ela não veio e aí começou o sufoco financeiro do Estado, já às voltas com a inflação nas nuvens.
No acidente do Césio-137, o governo Sarney agiu com omissão e lentidão, levando a economia de Goiás à bancarrota. A inflação estratosférica deu ao fim do governo Sarney a singular oportunidade de um unânime júbilo nacional.Até os mais ingênuos dos goianos sabem destes fatos. Sarney foi o algoz do governo Santillo, dentre outras razões por te-lo como adversário na disputa do diretório nacional do PMDB. Santillo era da ala Ulysses Guimarães. Sarney era da ala liderada, sabe por quem? O “ínclito” Jader Barbalho. Que dupla!

Não são os políticos os primeiros a reconhecerem que o povo é sábio? E nem convém apostar na memória curta do eleitor. Sarney é figura emblemática: como intelectual tem seu relativo valor. Como sobrevivente da ala bossa-nova da golpista UDN tem seu papel na história justificadamente muito questionado. Há 53 anos milita na política, e um de seus momentos históricos mais controversos foi comandar, no Congresso, a derrota das eleições diretas para a Presidência da República, ciente de que estava, como esteve em inúmeras vezes, na contramão da história.

Li dois bons livros sobre o domínio da oligarquia Sarney no Maranhão, que, aliás, se estendeu para o Amapá, onde se elegeu senador. Dois corajosos jornalistas maranhenses se prestaram a desvendar o mito, o dono do Maranhão e sua abastada família.Como teria sido possível a um homem público dedicado aos interesses de seu Estado e do País 24 horas por dia, todos os dias, conseguir tanto sucesso econômico, se não sobrava tempo para as atividades particulares? Pense bem, Maguito. Cuidado com quem andas. Quanto à sua lisura e honradez, não levantaria nenhuma dúvida.

Andar com fé eu vou...

Há sim um estofo de grandeza quando se é cassado pela vontade popular.Não é o meu caso. É trágico ser cassado por conspiração de fatores sobre os quais você não tem nenhum controle.
Pensei que não tivesse inimigos. Tenho. Pensei que eles não jogassem pragas. Jogam. Pensava que praga não pegaria. Pega. Imaginava que não acreditaria nelas. Já acredito. É por isso que estou há muito sem poder escrever. Um alento: meu eleitorado divide comigo a angústia do interregno.
Uma sucessão de problemas, ora no computador ora no moldem (?) ora na Uol ora na pqp tem reforçado meu complexo de jornalista marginal. É isso mesmo. Estou à margem pela localização geográfica, pelos obstáculos para o ressurgimento do meu pasquim, pela dificuldade de receber o que me devem e me prometeram e pela conspiração da informática que, de repente, não mais que de repente, cassa-me o sagrado direito ao jus sperniandi nesta tela.
Um filho de Deus, finalmente, apareceu aqui. Seu nome é Fábio. Rapaz tímido, mas inteligente ao extremo.Magistral nas três atividades paralelas que exerce. Numa delas, a de Web-disign, raia à genialidade. Conseguiu identificar o problema e promete que voltarei à baila logo logo. Oremos pois.

domingo, 13 de julho de 2008

À ESPERA DE SUPORTE

Tento todos os dias. Uma hora dará certo. Conseguirei falar na Telecom e na Uol.

Aos milhares, ou melhor, às centenas...Bem, às dezenas dos meus caros leitores e leitoras cumpre explicar: meu computador me surpreendeu. Sempre o tive na qualidade de companheiro de todas as horas. Não é bem assim.Não é um ser humano mas também tem suas falhas.

Nunca pensei que fosse experimentar sensações tão antagônicas: a satisfação de alimentar diariamente um blog e a frustração de ficar sem poder acessá-lo por longo tempo. Escrevo hoje na tentativa de inserir minhas desculpas num espaço que tanto prezo e que deve ser utilizado para coisas mais importantes. Temo que possa dar tudo errado, como tem sido ultimamente. Vou tentar divulgar esta nota. Meu filho não está aqui para dar o suporte técnico de que dependo. Vamos lá.

Essa tal de Telecom, que lástima! Promete tanto até nos ter como cliente, depois vem o drama de a gente não conseguir contato. O mesmo digo da Uol, pois a pane ocorrida em São Paulo sobrou para mim, acrescentando mais problemas na minha máquina. Será que só eu estou pagando o pato aqui em Goiânia? E mais: Telecom, espertamente, não discrimina as tarifas telefônicas do custo da banda larga promocional. Mistura tudo e apresenta a conta, cada vez mais salgada. A Uol repete a mutreta mais diretamente: prometeu a taxa mensal de pouco mais de 9 reais, a segunda conta já veio no valor superior a 16 reais. Apelar para quem, se a gente não consegue contato para reclamar nem dos defeitos. Imagine das contas! A propaganda enganosa continua. Aos incautos resta pagar caro pela baixa qualidade dos serviços.

Espero a vinda aqui de um filho de Deus capaz de repaginar o blog e me instrumentalizar melhor para agregar outros blogs, pois tenho recebido muito apoio dos que operam na mesma freqüência da comunicação via internet, divulgando-me em suas páginas.

Venha, filho de Deus, com seus largos conhecimentos de informática e tire-me do isolamento. Quero voltar a produzir. Por favor Telecom, Uol, respondam aos meus apelos. Preciso escrever. Preciso me interagir com meu público, vasto público. Sei que são milhares, pela qualidade e pela credibilidade de cada um dos leitores. Cada eleitor vale por muitos. Tenham paciência. Eu voltarei.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Escrevendo pelas orelhas

Brasiliense/ 191 pgs.



Sob os auspícios metodológicos de um suntuoso palavrão, a prosopografia, o historiador inglês Peter Burke pretende reconstituir um momento único e dos mais definidores para a ascensão do ocidente. Prosopgraphy, no original, é a linhagem metodológica acalentada por historiadores ingleses que consiste no empreendimento historiográfico de recomposição de características de um grupo específico de atores, com vistas a recriar com detalhes um determinado período histórico. Compõe-se um universo a ser estudado com base no cruzamento de trajetórias e hábitos de um grupo de indivíduos e seus familiares, mantendo uma comparação minuciosa entre etapas corriqueiras, mas profundamente reveladoras das sociedades analisadas, tais como o casamento, a morte, as ocupações etc. Nas mãos de um hábil historiador o método pode se tornar uma fonte prodigiosa de informação e análise. Entretanto, não se trata de uma combinação matemática de dados históricos o que se encontra em Veneza e Amsterdã: um estudo das elites do século XVII. A ênfase nas muitas minúcias de determinados indivíduos, sempre penosa para o pesquisador e não raramente enfadonha para o leitor, decepciona quem vai em busca do escrutínio apenas de aspectos macro-históricos.

Templos devotados ao comércio no que poderia ser chamado de a pré-história da globalização, Veneza e Amsterdã vêem nos movimentos incessantes de seus portos o deflagrar de uma elite pioneiramente cosmopolita nos hábitos de vida e transformadora da noção de comércio. Burke explora à exaustão a transformação dos Entrerpreneurs em Rentier, na origem quase comum do capitalismo produtivo e financeiro. O livro, que mesmo esgotado no Brasil comemora a maioridade da publicação original, não chega a mostrar toda a desenvoltura do historiador Burke em sua seara, a Europa da Idade Moderna. Trata-se mais de um trabalho de terraplanagem para outros historiadores menos dispostos do que estava este colunista titular do caderno Mais! a mergulhar nos manuscritos e recompor uma teia de relações seiscentista. Sem grande esforço o leitor consegue divisar por entre os tipos reais analisados os traços menos caricaturais do agiota Shylock e do proprietário de frota marítima Antônio, ambos personagens do clássico shakespeariano O Mercador de Veneza.





Unijuí/ 180 pgs.


Lebenswelt é um termo corrente em certos nichos acadêmicos das ciências humanas, sobretudo na sociologia e na filosofia. É mais um ponto teórico a orbitar ao redor dos conceitos tonificados pelo grupo de pensadores alemães reunidos sob o selo da Escola de Frankfurt, na primeira metade do século XX. Genericamente, o conceito traduzido como mundo da vida designa um “horizonte comum, no qual se desenvolve o protagonismo do sujeito, de sua interação intersubjetiva num mundo social, sem esquecer nem recusar a subjetividade de cada sujeito, muito menos a objetividade do mundo da vida.” (p. 20). Para o leitor ainda completamente perdido com esta definição, o texto de Jovino Pizzi, O mundo da vida – Husserl e Habermas, talvez permaneça não esclarecendo tudo.

O livro não esgarça a idéia a ponto de iniciar os leigos, mas para os já brevemente familiarizados neste quesito filosófico há um levantamento de valor sobre os rastros do tema na filosofia fenomenológica de Edmund Husserl. Detendo-se sobre a fenomenologia, Pizzi empresta pouca atenção à obra de Jürgen Habermas, que ao acomodar a idéia de mundo da vida como parte crucial da já decantada Teoria da Ação Comunicativa, foi quem de fato resgatou o que Husserl anteriormente havia encetado. O livro, da inexpressiva editora Unijuí, é conversa que pode exigir algumas xícaras a mais de embasamento dos freqüentadores de cafés filosóficos, mas não morde quem não tem medo de encarar algumas horas de leitura.

terça-feira, 10 de junho de 2008

A ELEIÇÃO DO SIM E DO NÃO

Não quero ser o “desmancha-prazer” das oposições, mas essa eleição municipal de Goiânia está trazendo à lembrança o tempo da ditadura do general Alfredo Stroessner, que reinou por 35 anos, sete mandatos e inúmeros absurdos, no Paraguai, entre 1954 e 1989. Ditador assumido a ponto de oferecer abrigo até para nazistas caçados por Israel, Stroessner credenciou-se a máster em fraude eleitoral.

Deve-se ao bizantino ditador a invenção da cédula eleitoral emblemática de sua tacanha visão: trazia impressa duas únicas opções para o eleitor paraguaio votar: Sim ou Não. "Sim" significava a opção pela permanência de Stroessner no Poder. "Não" significava a opção para o ditador não deixar o Poder.

Da forma como as oposições estão facilitando as coisas, é provável que o eleitorado se dividirá entre os que dirão sim ao segundo mandato de Íris e os que dirão não, recusando sua ida para casa. Tudo democraticamente.

Blogueiros, unamo-nos, só temos a ganhar

Pronto. Proliferam na imprensa diversas matérias focalizando o universo dos blogueiros. Eles estão tomando conta, virando de cabeça para baixo o universo midiático. Jornalista, comunicadores, professores, historiadores, pesquisadores, e uma infinidade mais de profissionais já não conseguem começar o dia sem “molhar o pão” nas páginas da internet. Novos tempos, novas maneiras de conectar o mundo na rede da informática, ignorando distância, tempo e espaço. Blogueiros, unamo-nos, nada temos a perder senão a auto-censura.

A volta do embornal

Se queremos dar nossa contribuição à preservação do meio ambiente, muitas são as formas individuais de se praticar, no dia-a-dia, a boa ação que, um dia, a Terra haverá de reconhecer. As padarias poderão dar o exemplo, oferecendo a seus fregueses o embornal como brinde. Além de pôr fim ao desfile de sacolas de plástico, estarão conquistando a fidelidade dos fregueses. É muito simples: confeccione o embornal com a propaganda da padaria, confeitaria, café, sei mais lá o quê, e ofereça-o de brinde, fazendo com que o “vasilhame” passe a ser um hábito para quem vai todo dia em busca do sagrado pão. Ops: a idéia já está patenteada pelo degas aqui. Para você que não sabe o que é embornal, consulte alguém da sua família, aquele que um dia o conheceu. E dele se valeu.

No stress

Não fui, não sou e não serei o único a insistir na idéia, mas já ganhei um adepto de peso. O comunicador Lincon Paiva, no precioso espaço da Folha de S. Paulo (Debates/Tendências) está defendendo a carona, adotada em diversos países. “Carpool” ou “Rideshare” são os dois nomes da carona já consagrada em diversos países. Insisto: como está o trânsito em Goiânia e como ele irá ficar ainda mais complicado, chegou a hora do transporte compartilhado. Vizinhos, uni-vos, do contrário as crianças perderão os horário das aulas e os irmãos, país, perderão o emprego por não chegarem na hora certa, e todos nós perderemos o equilíbrio psicológico, sucumbidos perante o estresse. Paremos para pensar. É o título da minha matéria sobre o assunto, já divulgado aqui. Leia.

domingo, 8 de junho de 2008

O TRIUNFO DAS PRESSÕES

A fase enigmática do governador, pouco afeito a declarações políticas, parece estar superada com suas últimas declarações. Deu impulso ao entusiasmo do candidato Sandes Júnior – não houvesse entusiasmo ele não estaria disposto a disputar a prefeitura pela terceira vez -, fazendo loa às suas qualidades de político mais capacitado, no conjunto dos nomes à disposição, para enfrentar o prefeito Íris Rezende.

Em seguida, Alcides voltaria ao centro das atenções por admitir-se propenso a buscar novas alianças para o futuro. Essa postura responderia ao entendimento de que é preciso haver reciprocidade em vista da atenção especial que o presidente Lula estaria dando a Goiás, atenuando, assim, as dificuldades de sua administração.

Fosse somente por dever de reciprocidade, as declarações comportam leitura em duas direções. Alcides é grato a Lula pelo que vem fazendo o presidente em termos de investimentos no Estado, através do PAC, além de outras demonstrações de apoio. A dívida política então passa a existir no pressuposto de que lealdade se paga com lealdade. A premissa tanto se encaixa no presente, quanto se conecta com o passado.

Pode-se ler o sentido da gratidão de duas formas. Há uma dívida política também acumulada com a aliança política que o projetou para o governo. O importante é que o tempo vai ajudando a facilitar a compreensão do jogo político pelo contexto em que as declarações são feitas. Calado, Alcides parecia um enigma. Falando, vai desfazendo os mistérios.

As declarações e manifestações de reconhecimento ao apoio do governo Lula não são mais segredos. Ocorre que sua repetição, cada vez mais enfática, vai sugerindo que o PP, de fato, se propõe a caminhar com novas parcerias para o futuro, isto é, arquiva seu passado de aliado do PSDB para tentar a aventura de juntar-se ao PT e, provavelmente, ao PMDB. Estaria assim coroada de êxito a proposta do presidente Lula de tudo fazer, ostensiva ou subliminarmente, para desconstruir o senador Marconi Perillo, uma liderança ainda forte o suficiente para chegar em 2010 em condições de polarizar as disputas eleitorais.

Pode-se traduzir as últimas declarações do governador como quem dinamita as pontes que, num futuro, levariam ao reencontro de seu histórico parceiro, o PSDB ou estaria traçado, com óbvia nitidez, a disposição do grupo alcidista de caminhar por outras rotas políticas?

Não é que as fases pré-eleitorais são pródigas em nuanças frente as quais se podem extrair as mais variadas conjecturas. É que, se prestarmos bastante atenção, percebe-se a convicção com que o governador discorre sobre determinados tópicos políticos.

Quando é para reconhecer o espírito público do presidente Lula que não discrimina seu governo, há uma ênfase clara a um apoio político-administrativo circunstancial. Ora, o presidente da República tem deveres para com todos os Estados. Ocorre que, o interesse político vem se sobrepondo ao dever institucional. Pelas dificuldades do Estado, compreende-se a gratidão do governador.

O que está bem transparente é a pressa do governo Lula de estabelecer uma base política em Goiás, unindo prefeito e governador em torno de um projeto bem mais amplo, com vistas a 2010. O cruzamento da sede de recursos do Estado e a fome de poder e de vingança do presidente Lula explicam esse relacionamento pautado num fluxo de amabilidades sem limites.

Quando posto sobre a curiosidade do repórter que quis saber se PP e PSDB pensam de modo convergente quanto à disputa da prefeitura, o tom da resposta foi menos enfático e quase dúbio: “Acho que sim, tirando um ou outro contratempo”.

Via de regra, as declarações políticas revelam mais pelo que é dito de modo pouco explícito. Assim, vale deduzir que o relacionamento entre o governador e o senador Marconi Perillo vive uma fase, digamos, de esfriamento e distanciamento. À parte as atribulações de cada um, valeria a velha receita de convivência política entre partes que foram, um dia, confundidas pelo sincretismo de suas façanhas, caso outros fatores não se impusessem. O tentáculo do governo federal torna-se irresistível pelo que oferece no presente e pelo que promete no futuro. O que parecia sólida aliança vai-se desfazendo ao peso das pressões e das tentações.

Quem está no comando de um processo de afunilamento político pré-eleitoral é o governador. Só a ele cabe a iniciativa das deferências para que o distanciamento converta-se em reaproximação, se for o mais conveniente. Só ao senador cabe o dever da colaboração no papel de defensor dos interesses do Estado no Senado da República. Até aí, nada demais. Não haveria desgaste político para as partes, contanto que a liturgia dos cargos fosse observada. Um comanda um processo político pelo peso da chefia do Executivo estadual. O outro se obriga a colaborar pela importância da representatividade no Legislativo federal.

E então? A quem cabe desarmar os espíritos, diluir as tensões, exorcizar o ambiente? Fora do foco que diz respeito ao papel de cada um, há um fértil campo para as mais estapafúrdias ilações com um custo político que só se poderá aferir no futuro. Ainda assim vale a regra elementar: Ao comandante, seu atributo é comandar. Tudo mais será conseqüência a curto, médio e longo prazos.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

MARGEM PARA ESPECULAÇÕES

A ausência do senador Marconi Perillo na inauguração de usina em Montividiu, na quinta-feira, dá margem para muita especulação, já que ele o governador Alcides Rodrigues iriam se encontrar, após longo tempo afastados.

O governador também deu sua contribuição para novas especulações ao admitir alianças fora de cogitação, até então. Quem venham as especulações.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Escrevendo pelas orelhas

Max Weber e a Política Alemã
Editora UnB, 113 pgs.


Para um erudito pensador, ter sua obra política fazendo sombra aos seus trabalhos intelectuais pode ser um indicador de mediocridade. Desse mal, entretanto, não padeceu o legado de Max Weber. O pensador alemão debateu-se com fervor diante de momentos ebulitivos do quadro político de seu país, e é justamente o resultado dessas movimentações biograficamente pouco conhecidas que Jacob Peter Mayer quis trazer a lume em Max Weber e a Política Alemã. A despeito das preocupações próprias de sua precoce maturidade intelectual, parte delas plasmadas no seu famoso texto Ciência e política: duas vocações, Weber jamais pôde ser indiferente ao ambiente em que fora criado, se inteirando desde cedo das conversas mantidas em sua casa pelos correligionários de seu pai, um proeminente político liberal.

O texto de Mayer, originalmente publicado em 1956, demonstra que o pensamento de viés mais político de Weber adquiriu a repercussão que este autor quis lhe dar, recuando estrategicamente quando se tratava de assegurar sua posição de homem de cátedra, embora em momentos de tensão política ele não tenha menosprezado as indicações partidárias que lhe eram propostas. É certo, no entanto, que a carreira do autor que soube definir como categoria sociológica o líder carismático não teria ido longe, a julgar pela sua ojeriza tanto à demagogia de palanque quanto ao frenesi do era bismarckiana. Pragmaticamente, o autor que seria consagrado com a publicação de A ética protestante e o espírito do capitalismo, após fazer parte de uma comissão de notáveis, logra incluir três pontos que julgava fundamentais na redação da Constituição de Weimar. Weber propõe unidade máxima à Carta Constitucional, cônscio da necessidade de um sólido amálgama institucional à Alemanha recentemente unificada. São dele ainda duas propostas inovadoras à época: a garantia aos parlamentares do instrumento das comissões de inquérito, e ainda a vigência do voto popular como único meio legítimo de escolha do líder do Reich.

Vê-se também no livro bem composto de Mayer o temor do sociólogo com o expansionismo russo e suas possíveis repercussões na Alemanha. Para termos ciência da validade desta visão ainda na aurora do século XX, basta nos lembrarmos de episódios como a aniversariante Primavera de Praga ou a guinada autoritária do projeto de Putin. Tudo isso compõe um perfil político de um intelectual singular e que mereceu do sociólogo francês Raymond Aron o feliz – mas incompleto- apelido de o “Maquiavel de Heidelberg”.





L&PM Pocket/ 205 pgs.


Pouco pode merecer de respaldo uma coluna que recomenda a óbvia leitura de clássicos atávicos da literatura nacional. Para isso existiram as aulas de literatura durante os anos de escola. Mas aos alunos relapsos o Escrevendo pelas orelhas dá uma nova oportunidade de se debruçarem sobre Memórias de um sargento de milícias de Manuel Antônio de Almeida. Escrito em 1851, o livro inaugura um panteão heróico de grandes anti-heróis da ficção brasileira, bem antes de Policarpo Quaresma ou Macunaíma. Leonardo, o memorando em questão, só tem seu nome revelado aos leitores na metade do livro, sendo antes tratado pelo narrador como “menino” ou “pequeno”, vocativos que propositalmente diminuem as qualidades do biografado. Romance de transição, Memórias é tido como pertencente ao Romantismo, mas é inquestionavelmente repleto de traços do Realismo. As descrições das travessuras do infante Leonardo são próximas de como o defunto personagem Brás Cubas relata sua infância. Manuel Antônio de Almeida, aliás, foi quem cedeu um emprego na Tipografia Nacional a um jovem mulato de nome Machado de Assis.

terça-feira, 3 de junho de 2008

SUA EXCELÊNCIA, O FATO

Quem sabe a hora certa do veredicto é quem manda. Quem manda é ele. Quem tem autonomia de vôo e tem responsabilidade ímpar no processo é ele. Ocorre que, sua excelência, o fato, está conclamando a imediata intervenção. O quase consenso em torno da hipotética candidatura de Demóstenes Torres à Prefeitura vai se impondo. O governador Alcides Rodrigues está vendo o tempo se esvair.

Bater o martelo por um corifeu do DEM é o mesmo que dizer ao presidente Lula que dispensa seu apoio, financeiro principalmente. Definir-se pela candidatura do PP é pedir aos militantes do PSDB para cruzarem os braços, facilitando o trabalho de Íris na campanha.

Optar por Barbosa Neto é se atirar no escuro. Barbosa tem perspectiva política a médio e longo prazos, por isso faz do pragmatismo sua mais notória marca de militante independente. Não é preciso lembrar que eleição municipal é prenúncio de bons trampolins para as acomodações das disputas de 2010.

Ter em mãos o segundo maior orçamento do Estado é garantia de extraordinário cacife para o jogo das composições em eleições majoritárias. E elas estão chegando. Traduzindo: o governador tem um descomunal abacaxi nas mãos. Não vai poder segurá-lo por muito tempo. Até pelo seu excepcional peso.

domingo, 1 de junho de 2008

A FACE AUTOFÁGICA DO PMDB

Um ex-não-pouca-coisa da política, que teve influência e presença ostensivas na campanha majoritária do PMDB, em 2006, dá seu testemunho do quanto o partido preserva uma característica prejudicial ao seu próprio desempenho eleitoral. Sempre que se vê com boas chances de conquistar o poder, passa a ter dois problemas pela frente. Primeiro: estruturar uma campanha capaz de resistir aos incômodos ataques dos adversários. Segundo: contornar as disputas internas pelos hipotéticos cargos públicos que vêm no pacote da vitória eleitoral. A soma dos dois arraigados hábitos produz a ineficiência política em dose dupla.

A mais recente experiência, a de 2006, foi, segundo um dos mentores da estratégia de campanha, pródiga em episódios típicos de um processo autofágico só possível quando o partido supõe estar a um passo de uma importante vitória eleitoral, menosprezando condicionantes de uma disputa.

Todos os números, todas as análises e toda a expectativa apontavam na direção do candidato a governador Maguito Vilela como nome a ser sagrado nas urnas. A diferença a seu favor, em relação ao ainda desconhecido Alcides Rodrigues, cegava os cardeais peemedebistas, turvando-lhes a visão para uma realidade projetada mais adiante.

Não é preciso descer aos detalhes para historiar fatos que alteraram bruscamente o panorama das disputas. Voltemos, portanto, ao título desse comentário. Cercado de muitos caciques, aqueles ávidos por ensinar como se desenvolve uma campanha política exitosa, Maguito fazia sua parte sem trair a confiança em si mesmo, elevando seu coeficiente de otimismo na medida em que os números e as adesões indicavam o caminho seguro da vitória.

A auto-confiança envolvendo a cúpula da campanha se projetaria com mais nitidez na determinação do candidato de ser ele o mediador principal dos entendimentos e das composições políticas. Foi com surpresa que o avanço da campanha fez estacionar o candidato peemedebista e produzir o fenômeno do crescimento gradual do opositor Alcides Rodrigues. Foi ali que o bastidor da campanha peemedebista se abasteceu de inúmeros episódios em que o excesso de confiança levou a primaríssimos erros. Sucessivos desencontros produziriam o ambiente propício à conclusão: a auto-suficiência do general causaria a perplexidade geral.

Um deles deveu-se ao temperamento tipo “deixa que eu resolvo” exibido pelo candidato que resistiria às muitas sugestões de dialogar com segmentos sociais com o discurso que mais seduz os potenciais adesistas. No caso de Maguito, sua posição no topo da lista de virtual governador tornava muitos setores adesistas em potencial, desde que o convite fosse feito com o aceno de expectativa de participação no poder.

Paralelo à resistência de Maguito de encampar o discurso mais comum do mercado político – o da promessa de que a adesão pressupõe participação nos cargos do governo – uma dramática disputa de poder se processava entre o agrupamento que conduzia a campanha, ocupando ali pontos estratégicos. Todos, indistintamente, se encarregariam de uma tarefa. Todos, conscientemente, estabeleciam um preço: o direito de reivindicar um bom naco do poder, nos chamados cargos importantes.

Num dado momento da campanha, os números não deixavam dúvida de que o PMDB levaria o troféu da vitória ainda no primeiro turno. Ganhava ali contornos de luta fratricida a disputa interna, na retaguarda do candidato, pulverizando-se o resultado eleitoral da campanha, enquanto o adversário, colando seu nome ao antecessor, levantando uma mesma bandeira, viu seu nome disparar na reta final,do primeiro turno.

Ainda assim, o PMDB não deixou de digladiar por cargos e nem Maguito aceitou sugestão de acenar com setores simpáticos à sua causa de que, uma vez no governo, eles teriam garantido o cargo que motivaria sua adesão. O partido brigou, antecipadamente, pelos cargos. O candidato ignorou, olimpicamente, a sugestão de mudar a estratégia de sedução, reduzindo a margem das promessas mirabolantes.

O que o deputado José Nelto vocaliza agora, ao sugerir que um grupo peemedebista pode conversar sobre 2010 com Henrique Meirelles, dá bem uma medida do velho comportamento do PMDB. São fortes os indicadores de que Íris ganha mais um mandato. São evidentes os indícios de que os cargos da futura administração municipal já estão em disputa.

Maguito tem boas chances em Aparecida de Goiânia, mas quer reassumir a presidência do PMDB. Pode estar aí um outro roteiro da propensão que tem o partido para exercitar sua autofagia.

Há quem garanta que os exemplos vêm lá de cima e de épocas mais remotas. Em 1989 o partido protagonizou, nacionalmente e em longa metragem, o velho filme. Ulysses Guimarães, Waldir Pires e Íris Rezende promoveram a luta aberta para ver quem conquistava o direito de disputar a Presidência da República.

A luta foi tão dramática que o vencedor, Ulysses, reproduziu a vitória de Pirro. Venceu, mas não pôde contar, sequer, com seus companheiros de batalha, isto é, do mesmo partido, para a disputa presidencial. Chegaria num humilde quinto lugar na corrida. A bem da coerência e da história, é preciso registrar que os partidos políticos não mudam. Eles se revelam.

RÉQUIEM PARA UM SONHO

Orquestrado nas demais instâncias partidárias, antes incorporadas de fato, de direito e por dever, à aliança nascida em 98, o réquiem para a retirada da candidatura de Rachel Teixeira à Prefeitura tem agora sua partitura final a cargo do seu próprio partido, o PSDB. O sonho de Rachel de conquistar a unanimidade da base aliada para depois enfrentar a fortaleza Íris Rezende vai-se diluindo no enfrentamento das resistências e na pouco dissimulada queda de braço entre PP e PSDB.

A alternativa Demóstenes Torres pode ser a guinada que a todos os partidos envolvidos num condomínio de poder poderá salvar pelo contexto em que surge e pela força que, em princípio, sugere dispor para a almejada reunificação da base. A deputada perderá menos se jogar a toalha. Muito mais arrisca se insistir na empreitada, obrigando seu partido a forçar uma passagem, estreitada por um jogo de pressões nitidamente grupal.

O recuo preserva a porta aberta para a reunificação. Demóstenes surgiriam como elemento catalisador, selando uma volta ao centro da aliança PSDB-DEM, principal eixo por onde gravitariam os demais consorciados para o desafio de 2010. A oportunidade que a candidatura Demóstenes abre não alcança tão-somente a possibilidade do reencontro político entre os dois, mas alarga o espectro partidário por passar ao PP e a outros menos seduzidos com a perspectiva de poder, a idéia de que unidos podem repetir os feitos políticos até aqui. Divorciados, se obrigarão a novos pactos onde o papel de cada um será, fatalmente, menos relevante e mais coadjuvante. Agora é esperar para saber qual a leitura o PP faz de tudo isso.

Guindada ao centro das atenções na base aliada, a suposta candidatura Demóstenes à Prefeitura eleva a expectativa quanto ao posicionamento do comandante do processo, governador Alcides Rodrigues. O imediato apoio ao nome que empresta ao cenário a força da aglutinação porá fim às especulações de que o PP teria optado por uma outra trilha política, mesmo levando em contra o desafio maior que seria conter o avanço do PMDB e companhia. Ou, do contrário, vendo aí o ensejo para mudar de companhia, encerrando uma história para tecer uma aventura.


(Próximo texto: A face autofágica do PMDB)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Escrevendo pelas orelhas


Martins Fontes / 210 pgs.


O embotamento que os saudosistas reiteradamente apontam na crítica de arte é algo que não tem vez nem espaço no trabalho de John Ruskin. Ao contrário, o texto deste esteta inglês talvez seja o ápice do envolvimento passional entre o crítico de arte e a obra em análise. Opositor contumaz dos emblemas da era Vitoriana, Ruskin permanece no imaginário dos continuadores do seu ofício como o exemplo de gênio a serviço do bom gosto e da moral. Em As Pedras de Veneza, um dos seus mais importantes trabalhos, o autor escarafuncha à exaustão as sutilezas arquitetônicas e históricas das pedras, paus, concreto e gôndolas espalhados pela cidade italiana. A influência deste livro no século XIX apenas começa no entusiasmo com que Marcel Proust o traduziria para o francês. Os escritos de Ruskin alimentam uma carga enorme de lugares-comuns com que as vítimas dos críticos procuram desdenhar das surras levadas por uma pena bem afiada. O fervor de algumas de suas idiossincrasias chega a ser caricatural, como na sua crença na decadência galopante de Veneza, ou como na sua rejeição ranheta às obras da Renascença. A acidez contra certas personalidades e hábitos ingleses do seu tempo lhe rendeu algumas censuras em diversas edições das Pedras. No que há de exagero, inclusive, o livro é um guia preciosíssimo para uma visita culturalmente minuciosa a Veneza, embora a edição em português continue esgotada.





Presses Universitaires de France/
128 pgs.



Simples e didático, La peinture italienne de Jean Rudel é mais um título da numerosa coleção francesa “que sais-je?”, que, abramos aqui um parênteses, aborda assuntos os mais distintos, e cuja emulação mais bem sucedida no mercado editorial brasileiro é a já clássica primeiros passos, da editora Brasiliense. Com o sucesso da empreitada, Luiz Schwarcz, então enfant terrible no mundo editorial nacional, saiu de lá foi montar a maior editora do Brasil, a Companhia das Letras. Fecha parênteses. O livro de Rudel, com a colaboração da historiadora de arte Sandra Costà, apenas raspa em discussões sobre pintores, suas escolas e estilos, deixando a desejar aos já mais profundamente iniciados no atávico universo pictórico italiano. Como apanhado histórico, tem o mérito de tratar com igual naturalidade tanto os rabiscos etruscos que introduziram a noção de arte na Roma antiga quanto os arroubos futuristas de Marinetti e seus seguidores, no início de século XX, o que, levado ao excesso, quase coloca o sorriso de La Gioconda de Da Vinci no mesmo patamar de um afresco qualquer produzido na década de 60.







Difel/ 280 pgs.


Estruturado em verbetes que facilitam a consulta rápida, 50 pensadores contemporâneos essenciais – do estruturalismo à pos-modernidade salvam o leitor da ignorância completa sobre o legado de diversos expoentes das ciências humanas, de Barthes a Sartre, de Hanna Arendt a James Joyce. A seleção dos nomes é, obviamente, arbitrária e nem um pouco exaustiva, com destaque a uma maioria de franceses e com a inclusão de alguns nomes questionáveis em razão do grau de importância. A ênfase na linhagem estruturalista denuncia o prisma intelectual do autor John Lechte, que tem como pálido cartão de visitas o fato de ter sido aluno de Julia Kristeva. Mesmo com as limitações evidentes, as menções aos pensadores têm valor por serem bem menos biográficas e bastante mais críticas do que se encontraria nos volumes empoeirados da Enciclopédia Britânica.

domingo, 25 de maio de 2008

FARINHAS QUE NÃO SE MISTURAM

A definição do nome que vai representar o Partido dos Trabalhadores na aliança com o prefeito Íris Rezende, tudo indica, só será feita no bojo de um consenso que obriga o PT a ser cabo eleitoral da reeleição do prefeito. A ala contrária ao acordo terá de se ajustar. A unção do nome para vice supera uma etapa, mas sugere que um “contencioso” político fica para discussão futura. PT e PMDB terão de traçar uma linha comportamental durante a ocupação da prefeitura pelo futuro vice, caso tudo se dê conforme as previsões das partes, porque a aliança visa dividendos mútuos a curto, médio e longo prazos.

Confirmada a reeleição de Íris, um fato plausível pelo cenário à frente, o modus operandi da campanha exigirá reajustes que permeiam os entendimentos de varejo, onde as conveniências políticas imediatas haverão de prevalecer acima de razões partidárias ou doutrinárias. Nem PT é aquela agremiação sectária nem PMDB pode ser tratado como a encarnação do oportunismo, dado o exemplo do partido no seu código fisiológico com o qual se credenciou, nacionalmente, a ser aliado incondicional dos governos federais.

Por deter expressiva bancada no Congresso e ser, em todo o país, o partido com maior capilaridade, ele desenvolveu um evangelho exclusivo para conseguir o milagre de jamais eleger um presidente, mas ser o maior beneficiário da vitória dos outros. Perde a cadeira presidencial, mas não perde a sombra que ela projeta pelo seu gigantismo técnico-burocrático e seu longo tentáculo político.

Na administração FHC e agora na gestão Lula, é o PMDB o fiel da balança para efeito de aprovar ou não medidas do interesse do governo. Em cada caso, a conta vem por um dos Estados, na cobrança de mais cargos federais, conforme o combinado. O PT, por sua vez e devido aos precedentes, despiu-se do sectarismo, do dogmatismo, abraçando com fervor revolucionário o pragmatismo como meio e como fim. Antes de chegar ao poder, tinha um bom discurso. Para permanecer no poder tem uma conveniente estratégia.

Por aqui, todo esse cacife político de ambos os lados será ponderado para a negociação de como o PT se prestará a trampolim para mais um mandato do prefeito e de como o futuro candidato ao governo, Íris Rezende, acenará com a contrapartida, uma vez conquistada a vitória ao governo. Tudo será discutido antes, seja no varejo, seja no atacado, levando-se em conta que quando estiver em pleno embalo da campanha de 2010, a retaguarda do virtual candidato Íris será a prefeitura sob o comando do vice, nascido da aliança de agora.

Supõe-se assim que a transferência do comando municipal será precedida de novos ajustes, definindo-se a correlação de forças entre PMDB e PT na ocupação dos cargos, o roteiro dos compromissos financeiros com empreiteiras e prestadores de serviços ao município. Importante, muito importante, será ajustar o calendário das inaugurações de obras às conveniências da campanha, canalizando dividendos eleitorais para o candidato. Mais importante ainda: nenhuma obra iniciada pela segunda gestão Íris poderá sofrer alteração em seu cronograma, de forma a serem inauguradas com placas e méritos tributados ao candidato do PMDB ao governo, ou seja, a prefeitura, sob o comando do PT, terá de seguir rigorosamente a cartilha redigida segundo a doutrina peemedebista.

O reconhecido autodidatismo do político Íris Rezende não permite que se perceba pendores amadorísticos em seu estilo de negociar entendimentos, sejam verbais, sejam escritos. De experiência para lidar com o poder e para assimilar a força política emanada do Palácio do Planalto o PT tem de sobra. E partirá desse cacife para estender seus domínios. Nenhuma aliança estaria condicionada à sua renúncia ao direito de alargar seus espaços. Muito pelo contrário.

Tudo remete às indagações: sendo o PMDB farinha de um único saco, e o PT farinha de um outro saco, o que poderá vir no desdobramento dessa aliança? Haverá química política capaz de misturar e confundir todos esses ingredientes políticos básicos para que tudo ocorra de acordo com o que sonham as partes? Ou haverá outras surpresas além do que comporta nossa vã especulação?