Para um erudito pensador, ter sua obra política fazendo sombra aos seus trabalhos intelectuais pode ser um indicador de mediocridade. Desse mal, entretanto, não padeceu o legado de Max Weber. O pensador alemão debateu-se com fervor diante de momentos ebulitivos do quadro político de seu país, e é justamente o resultado dessas movimentações biograficamente pouco conhecidas que Jacob Peter Mayer quis trazer a lume em Max Weber e a Política Alemã. A despeito das preocupações próprias de sua precoce maturidade intelectual, parte delas plasmadas no seu famoso texto Ciência e política: duas vocações, Weber jamais pôde ser indiferente ao ambiente em que fora criado, se inteirando desde cedo das conversas mantidas em sua casa pelos correligionários de seu pai, um proeminente político liberal.
O texto de Mayer, originalmente publicado em 1956, demonstra que o pensamento de viés mais político de Weber adquiriu a repercussão que este autor quis lhe dar, recuando estrategicamente quando se tratava de assegurar sua posição de homem de cátedra, embora em momentos de tensão política ele não tenha menosprezado as indicações partidárias que lhe eram propostas. É certo, no entanto, que a carreira do autor que soube definir como categoria sociológica o líder carismático não teria ido longe, a julgar pela sua ojeriza tanto à demagogia de palanque quanto ao frenesi do era bismarckiana. Pragmaticamente, o autor que seria consagrado com a publicação de A ética protestante e o espírito do capitalismo, após fazer parte de uma comissão de notáveis, logra incluir três pontos que julgava fundamentais na redação da Constituição de Weimar. Weber propõe unidade máxima à Carta Constitucional, cônscio da necessidade de um sólido amálgama institucional à Alemanha recentemente unificada. São dele ainda duas propostas inovadoras à época: a garantia aos parlamentares do instrumento das comissões de inquérito, e ainda a vigência do voto popular como único meio legítimo de escolha do líder do Reich.
Vê-se também no livro bem composto de Mayer o temor do sociólogo com o expansionismo russo e suas possíveis repercussões na Alemanha. Para termos ciência da validade desta visão ainda na aurora do século XX, basta nos lembrarmos de episódios como a aniversariante Primavera de Praga ou a guinada autoritária do projeto de Putin. Tudo isso compõe um perfil político de um intelectual singular e que mereceu do sociólogo francês Raymond Aron o feliz – mas incompleto- apelido de o “Maquiavel de Heidelberg”.
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