domingo, 1 de junho de 2008

A FACE AUTOFÁGICA DO PMDB

Um ex-não-pouca-coisa da política, que teve influência e presença ostensivas na campanha majoritária do PMDB, em 2006, dá seu testemunho do quanto o partido preserva uma característica prejudicial ao seu próprio desempenho eleitoral. Sempre que se vê com boas chances de conquistar o poder, passa a ter dois problemas pela frente. Primeiro: estruturar uma campanha capaz de resistir aos incômodos ataques dos adversários. Segundo: contornar as disputas internas pelos hipotéticos cargos públicos que vêm no pacote da vitória eleitoral. A soma dos dois arraigados hábitos produz a ineficiência política em dose dupla.

A mais recente experiência, a de 2006, foi, segundo um dos mentores da estratégia de campanha, pródiga em episódios típicos de um processo autofágico só possível quando o partido supõe estar a um passo de uma importante vitória eleitoral, menosprezando condicionantes de uma disputa.

Todos os números, todas as análises e toda a expectativa apontavam na direção do candidato a governador Maguito Vilela como nome a ser sagrado nas urnas. A diferença a seu favor, em relação ao ainda desconhecido Alcides Rodrigues, cegava os cardeais peemedebistas, turvando-lhes a visão para uma realidade projetada mais adiante.

Não é preciso descer aos detalhes para historiar fatos que alteraram bruscamente o panorama das disputas. Voltemos, portanto, ao título desse comentário. Cercado de muitos caciques, aqueles ávidos por ensinar como se desenvolve uma campanha política exitosa, Maguito fazia sua parte sem trair a confiança em si mesmo, elevando seu coeficiente de otimismo na medida em que os números e as adesões indicavam o caminho seguro da vitória.

A auto-confiança envolvendo a cúpula da campanha se projetaria com mais nitidez na determinação do candidato de ser ele o mediador principal dos entendimentos e das composições políticas. Foi com surpresa que o avanço da campanha fez estacionar o candidato peemedebista e produzir o fenômeno do crescimento gradual do opositor Alcides Rodrigues. Foi ali que o bastidor da campanha peemedebista se abasteceu de inúmeros episódios em que o excesso de confiança levou a primaríssimos erros. Sucessivos desencontros produziriam o ambiente propício à conclusão: a auto-suficiência do general causaria a perplexidade geral.

Um deles deveu-se ao temperamento tipo “deixa que eu resolvo” exibido pelo candidato que resistiria às muitas sugestões de dialogar com segmentos sociais com o discurso que mais seduz os potenciais adesistas. No caso de Maguito, sua posição no topo da lista de virtual governador tornava muitos setores adesistas em potencial, desde que o convite fosse feito com o aceno de expectativa de participação no poder.

Paralelo à resistência de Maguito de encampar o discurso mais comum do mercado político – o da promessa de que a adesão pressupõe participação nos cargos do governo – uma dramática disputa de poder se processava entre o agrupamento que conduzia a campanha, ocupando ali pontos estratégicos. Todos, indistintamente, se encarregariam de uma tarefa. Todos, conscientemente, estabeleciam um preço: o direito de reivindicar um bom naco do poder, nos chamados cargos importantes.

Num dado momento da campanha, os números não deixavam dúvida de que o PMDB levaria o troféu da vitória ainda no primeiro turno. Ganhava ali contornos de luta fratricida a disputa interna, na retaguarda do candidato, pulverizando-se o resultado eleitoral da campanha, enquanto o adversário, colando seu nome ao antecessor, levantando uma mesma bandeira, viu seu nome disparar na reta final,do primeiro turno.

Ainda assim, o PMDB não deixou de digladiar por cargos e nem Maguito aceitou sugestão de acenar com setores simpáticos à sua causa de que, uma vez no governo, eles teriam garantido o cargo que motivaria sua adesão. O partido brigou, antecipadamente, pelos cargos. O candidato ignorou, olimpicamente, a sugestão de mudar a estratégia de sedução, reduzindo a margem das promessas mirabolantes.

O que o deputado José Nelto vocaliza agora, ao sugerir que um grupo peemedebista pode conversar sobre 2010 com Henrique Meirelles, dá bem uma medida do velho comportamento do PMDB. São fortes os indicadores de que Íris ganha mais um mandato. São evidentes os indícios de que os cargos da futura administração municipal já estão em disputa.

Maguito tem boas chances em Aparecida de Goiânia, mas quer reassumir a presidência do PMDB. Pode estar aí um outro roteiro da propensão que tem o partido para exercitar sua autofagia.

Há quem garanta que os exemplos vêm lá de cima e de épocas mais remotas. Em 1989 o partido protagonizou, nacionalmente e em longa metragem, o velho filme. Ulysses Guimarães, Waldir Pires e Íris Rezende promoveram a luta aberta para ver quem conquistava o direito de disputar a Presidência da República.

A luta foi tão dramática que o vencedor, Ulysses, reproduziu a vitória de Pirro. Venceu, mas não pôde contar, sequer, com seus companheiros de batalha, isto é, do mesmo partido, para a disputa presidencial. Chegaria num humilde quinto lugar na corrida. A bem da coerência e da história, é preciso registrar que os partidos políticos não mudam. Eles se revelam.

Um comentário:

Anônimo disse...

A farra com dinheiro público em apenas três anos (2003 a2005) consumiu R$ 668 milhões em propaganda e promoção pessoal em nome do Governo Alcides/Marconi. A dupla torrou mensalmente a bagatela de mais de R$ 18,5 milhões dos cofres públicos com propagandas em veículos de comunicação. A vontade do governo atual de aparecer na mídia sempre falou mais alto. Os gastos com publicidade nesses três anos dariam para comprar 16.057 ambulâncias, ou até mesmo, 45.180 casas populares.Especialistas em marketing afirmam que a divulgação constante de anúncios da Celg (período 1999 a 2006) contrariam qualquer lógica de mercado. A estatal não precisa fazer propaganda , já que é uma empresa sem concorrência no mercado, é a única que fornece energia elétrica para a população. A Celg não precisa ‘vender o seu produto’ pois é a única opção dos goianos no setor. A utilização de publicidade só justificaria em casos de utilidade pública – como divulgação de interrupção de fornecimento. A quadrilha...