domingo, 8 de junho de 2008

O TRIUNFO DAS PRESSÕES

A fase enigmática do governador, pouco afeito a declarações políticas, parece estar superada com suas últimas declarações. Deu impulso ao entusiasmo do candidato Sandes Júnior – não houvesse entusiasmo ele não estaria disposto a disputar a prefeitura pela terceira vez -, fazendo loa às suas qualidades de político mais capacitado, no conjunto dos nomes à disposição, para enfrentar o prefeito Íris Rezende.

Em seguida, Alcides voltaria ao centro das atenções por admitir-se propenso a buscar novas alianças para o futuro. Essa postura responderia ao entendimento de que é preciso haver reciprocidade em vista da atenção especial que o presidente Lula estaria dando a Goiás, atenuando, assim, as dificuldades de sua administração.

Fosse somente por dever de reciprocidade, as declarações comportam leitura em duas direções. Alcides é grato a Lula pelo que vem fazendo o presidente em termos de investimentos no Estado, através do PAC, além de outras demonstrações de apoio. A dívida política então passa a existir no pressuposto de que lealdade se paga com lealdade. A premissa tanto se encaixa no presente, quanto se conecta com o passado.

Pode-se ler o sentido da gratidão de duas formas. Há uma dívida política também acumulada com a aliança política que o projetou para o governo. O importante é que o tempo vai ajudando a facilitar a compreensão do jogo político pelo contexto em que as declarações são feitas. Calado, Alcides parecia um enigma. Falando, vai desfazendo os mistérios.

As declarações e manifestações de reconhecimento ao apoio do governo Lula não são mais segredos. Ocorre que sua repetição, cada vez mais enfática, vai sugerindo que o PP, de fato, se propõe a caminhar com novas parcerias para o futuro, isto é, arquiva seu passado de aliado do PSDB para tentar a aventura de juntar-se ao PT e, provavelmente, ao PMDB. Estaria assim coroada de êxito a proposta do presidente Lula de tudo fazer, ostensiva ou subliminarmente, para desconstruir o senador Marconi Perillo, uma liderança ainda forte o suficiente para chegar em 2010 em condições de polarizar as disputas eleitorais.

Pode-se traduzir as últimas declarações do governador como quem dinamita as pontes que, num futuro, levariam ao reencontro de seu histórico parceiro, o PSDB ou estaria traçado, com óbvia nitidez, a disposição do grupo alcidista de caminhar por outras rotas políticas?

Não é que as fases pré-eleitorais são pródigas em nuanças frente as quais se podem extrair as mais variadas conjecturas. É que, se prestarmos bastante atenção, percebe-se a convicção com que o governador discorre sobre determinados tópicos políticos.

Quando é para reconhecer o espírito público do presidente Lula que não discrimina seu governo, há uma ênfase clara a um apoio político-administrativo circunstancial. Ora, o presidente da República tem deveres para com todos os Estados. Ocorre que, o interesse político vem se sobrepondo ao dever institucional. Pelas dificuldades do Estado, compreende-se a gratidão do governador.

O que está bem transparente é a pressa do governo Lula de estabelecer uma base política em Goiás, unindo prefeito e governador em torno de um projeto bem mais amplo, com vistas a 2010. O cruzamento da sede de recursos do Estado e a fome de poder e de vingança do presidente Lula explicam esse relacionamento pautado num fluxo de amabilidades sem limites.

Quando posto sobre a curiosidade do repórter que quis saber se PP e PSDB pensam de modo convergente quanto à disputa da prefeitura, o tom da resposta foi menos enfático e quase dúbio: “Acho que sim, tirando um ou outro contratempo”.

Via de regra, as declarações políticas revelam mais pelo que é dito de modo pouco explícito. Assim, vale deduzir que o relacionamento entre o governador e o senador Marconi Perillo vive uma fase, digamos, de esfriamento e distanciamento. À parte as atribulações de cada um, valeria a velha receita de convivência política entre partes que foram, um dia, confundidas pelo sincretismo de suas façanhas, caso outros fatores não se impusessem. O tentáculo do governo federal torna-se irresistível pelo que oferece no presente e pelo que promete no futuro. O que parecia sólida aliança vai-se desfazendo ao peso das pressões e das tentações.

Quem está no comando de um processo de afunilamento político pré-eleitoral é o governador. Só a ele cabe a iniciativa das deferências para que o distanciamento converta-se em reaproximação, se for o mais conveniente. Só ao senador cabe o dever da colaboração no papel de defensor dos interesses do Estado no Senado da República. Até aí, nada demais. Não haveria desgaste político para as partes, contanto que a liturgia dos cargos fosse observada. Um comanda um processo político pelo peso da chefia do Executivo estadual. O outro se obriga a colaborar pela importância da representatividade no Legislativo federal.

E então? A quem cabe desarmar os espíritos, diluir as tensões, exorcizar o ambiente? Fora do foco que diz respeito ao papel de cada um, há um fértil campo para as mais estapafúrdias ilações com um custo político que só se poderá aferir no futuro. Ainda assim vale a regra elementar: Ao comandante, seu atributo é comandar. Tudo mais será conseqüência a curto, médio e longo prazos.

Um comentário:

Anônimo disse...

DEPOIS QUE A REVISTA ÉPOCA DIVULGOU PARTE DO CONTEÚDO DAS FITAS GRAVADAS PELA PF, SOBRE A FORMAÇÃO DE QUADRILHA NO ESTADO DE GOIÁS CHEFIADA POR MARCONI PERILLO, com processos tramitando sob Segredo de Justiça ... PROCESSOS: INQ/2714, INQ/ 2481, INQ/473, PET/4181, etc. Todos no Superior Tribunal Federal (STF)... MUITA COISA MUDOU: A CASA CAIU E O POVO ACORDOU!
LÓGICO, UMA HORA A CASA IRIA CAIR!