Se o valor de um escritor - segundo adágio certamente já dito por alguém - pode ser medido pelo quilate de seus leitores, não é de todo errado supor o inverso: a resistência de alguns em ler determinado texto pode contribuir e muito para o prestígio da obra em questão e de seu autor. Por essa lógica, a importância de James Joyce como escritor pode ter sido, na visão de muitos, catapultada desde que Paulo Coelho, numa entrevista à Veja em 2001, tachou Ulisses e Finnegans Wake de “ilegíveis”.
O James Joyce de Dubliners, entretanto, ainda não é o dos mergulhos intimistas de Ulisses ou dos experimentalismos lingüísticos de Finnegangs Wake, embora nesta série de quinze contos já estejam presentes algumas idéias, e mais do que isso, personagens, redivivos pelos autor nas suas duas obras máximas. Sua cidade natal e seus habitantes, conterrâneos de Joyce, são expostos ao leitor com uma crueza embalada por caudalosos ressentimentos, como, aliás, foi sua relação com a Irlanda por toda sua vida. O jeito particular que o autor tem de cantar a própria aldeia é através dos tipos beberrões, grosseiros, e poltrões de diversos matizes, que emolduram o ambiente de atraso e “paralisia” que engessava os irlandeses. Os insultos de Joyce são sempre dirigidos à terra que nunca lhe emprestara o valor que ele julgava merecer, mesmo que, curiosamente, ele nunca tenha de fato ousado dela se desvencilhar por completo.
O intertexto entre algumas histórias no livro busca uma simetria sutil e só aparentemente despretensiosa. Já se encontra aqui uma urdidura fictícia própria de um artista ainda jovem – a ser posteriormente “retratado” em outro livro, A Portrait of the Artist as a Young Man - mas com pretensões já incomensuráveis para os limites da Irlanda. Em tempo: a edição da Bantam pode ser encarada por quem tem um inglês razoável. Não chega a ser ilegível, como quiseram alguns...
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