quarta-feira, 23 de abril de 2008

A BASE ALIADA PODE ACORDAR

O casamento entre o Partido dos Trabalhadores e o PMDB, dando ao prefeito Iris Rezende as condições de chegar em 2010 com a corda toda para disputar o governo do Estado, poderá vir a ser o grande fator capaz de provocar a reaglutinação da base aliada. Tendentes ao divórcio, o refluxo talvez seja a melhor das estratégias de sobrevivência, principalmente do PP, PSDB e DEM, dispersos hoje sob o pretexto de crescer isoladamente pela ocupação de mais prefeituras em outubro. Essa expectativa poderá dar lugar ao pragmatismo imposto por uma possibilidade próxima do real que é a reeleição de Íris, em dobradinha com o PT, quando então estará definitivamente selada a união para um projeto mais ambicioso: assumirem, juntos, o controle do governo estadual, repetindo-se a composição de chapa, Íris na cabeça com um nome do PT como vice. A consumação deste casamento, levado a sério com um candidato a vice-prefeito do PT e a possível vitória em outubro estabelecerá, irreversivelmente, o pacto para a ocupação do governo estadual. Se a base aliada não perceber o perigo, tudo ficará mais fácil para o outro lado, com certeza um dos pólos da provável bipolarização da disputa de 2010.

O desenho desse enlace político já teve início com o vigor com que a ala petista pró-Iris rompeu o dogmatismo e impôs sua vontade, sob a chancela do governo Lula, num preâmbulo político da grande batalha eleitoral – a mãe de todas – que virá depois. Será quando todo o arco de adversários do PSDB e aliados estará fortalecido em sua principal trincheira, Goiânia, além das ramificações no interior, onde PMDB e PT tendem a estar presente com o mesmo grau de comprometimento e um mesmo objetivo em mira: tentar tolher o caminho de volta de Marconi ao governo. Se ocorre a algum dos partidos da base aliada imaginar que sozinho pavimentará seu caminho para conquistar o poder estadual, trata-se de uma fantasia que, levada a termo, só beneficiará o “inimigo” já bem armado politicamente para propor o desafio das urnas. Nem PP, nem DEM , nem PSDB chegará em 2010 em condições de, isoladamente, enfrentar o peso da soma das máquinas lulistas e iristas, desde já azeitadas para o crucial duelo.

Fazer o caminho de volta, isto é, dispersar a frente partidária que finalmente conseguiu remover o PMDB do poder em 1988, é facilitar sobremaneira as chances de a roda política completar seus 360 graus, com Íris novamente no governo, pela terceira vez. Além de seu cacife, o prefeito estaria com uma retaguarda bastante expressiva, tendo em vista a perspectiva de que Lula poderá concluir seu mandato em posição de evidência em termos de pesquisas, como resultado dos investimentos sociais previstos. Negar ao governo sua capacidade de mobilizar a máquina para, em conseqüência, arrebanhar votos é ato de suprema ingenuidade, ou, provavelmente, supina burrice.

Ainda que o PP local viesse a fazer parte dessa composição, por já ser um aliado do governo Lula – uma possibilidade remota tendo em vistas as implicações e os interesses das lideranças no interior – a ele estaria reservado um papel irrelevante em vista de que a aliança PMDB-PT é por si só garantia de que uma candidatura ao governo, apoiada por Lula, surgiria fortalecida, impelindo os partidos que descobriram a fórmula política de desmoronar aquela hegemonia a repensar seu futuro. Unidos, têm grandes chances de polarizar as eleições, mas, para isso, não bastará a união. Ela implicará a aglutinação em torno de um nome bastante competitivo.

Outra fantasia seria imaginar que em tempo tão escasso se poderia fortalecer uma candidatura suficientemente expressiva para competir com o peso do candidato apoiado por Lula, desprezando-se o patrimônio político que já existe e que estaria pronto para uma batalha tão dramática. Como se vê, um dilema político está posto: menosprezar o maior nome da base aliada é sucumbir, por antecipação, ao peso político volumoso surgido do resultado de uma alquimia que soma sede de poder e incontido desejo de vingança. É da personalidade de Íris brigar pelo poder. É da filosofia do presidente Lula querer esmagar seus opositores.

Nenhum comentário: