domingo, 20 de abril de 2008

Vale tudo, menos beijo de língua

Vivi para ver. O grau de purismo, ou seria idealismo? com o qual o Partido dos Trabalhadores buscou ocupar seu espaço em Goiás me marcou pelo que prometia de resgate da atividade política pelos bons exemplos. Não tinha, como outros também, o direito de acreditar em discursos e promessas, mas a esperança nunca morre mesmo. O ápice da diferenciação em relação aos partidos da "burguesia" foi a reação fulminante dos puristas para expulsar o empresário Onofre Quinan de suas fileiras. Em seguida a sanha fundamentalista recairia sobre o senador Henrique Santillo e alguns de seus admiradores. Pensando bem: por que um grande empresário se sujeitaria às perseguições políticas de praxe na época, a não ser por ideal? Onofre já acompanhava Santillo quando 99,9% do empresariado mais vistoso era governo (militar) até a medula. O que visava Santillo a não ser um espaço para livrar-se de uma corrente do PMDB que dava claros sinais de adesismo ao sistema de poder?

Estamos no presente e o exacerbado clima entre os prós e os contras à adesão ao projeto do prefeito Íris Rezende dá bem uma medida de como o PT se tornou um partido mais igual de que os outros. Nada contra Íris e o PMDB, mas a quem serve a aliança? Aos dois lados, a princípio. Ao prefeito, claro, apesar de que ele tem sua reeleição garantida sem nenhum voto dos “trabalhadores”. O que importa é constatar que uma grande ala do PT dá validade ao adágio de que o segredo da felicidade é ter uma péssima memória. Se não vai a Íris por votos, vai por cargos. Aqueles que esqueceram a cartilha petista inspiradora do nascimento do partido estão felizes da vida pela expectativa de ter para si um naco das vagas que prefeito presumivelmente lhes destinará. E olha que a questão do vice está em aberto. O prefeito já levou a melhor, não importa o que venha acontecer. O partido abriu suas vísceras e agora terá que administrar a dicotomia PT e o PT do C (c de caroneiros ou de comensais).

Louva-se o prefeito pelo primor com que faz política no impulso de sua sagacidade e experiência. Rachou o partido com o sinalizador da prebenda. Eis a soma da maturidade e o estoicismo, resultantes dos duros embates, revelando o ativo eleitoral de quem não teme o julgamento das urnas nem a intricada senda dos bastidores. Se temesse não teria disputado a Prefeitura depois de duas derrocadas extraordinárias. O prefeito está certíssimo, pois apoio não se recusa e seu projeto está mais em cima, é 2010 o que interessa e, se possível, em polarização com o seu contra-ponto em termos de peso político-eleitoral e de ousadia, o senador Marconi Perillo.

Como deve estar decepcionada com o tamanho da incoerência e demonstração de fisiologismo e oportunismo a ala que se opõe tenazmente ao apoio a Íris. Quando expeliu de suas fileiras Onofre e Santillo o PT tinha em Íris a encarnação do demônio. Quem foi visto cumprimentando Íris por imposição das circunstâncias (em solenidades públicas) submeteu-se ao código de ética do partido, salvando-se da expulsão graças aos álibis juridicamente perfeitos.

Íris não abdicou de suas idéias e nem de seus princípios e se não tivesse um exército de seguidores não teria demonstrado seus pendores de fênix. Ressurgiu sim, das cinzas de duas duras experiências, mas não transigiu em seus ideais, e nem precisa, até por ter conquistado várias vitórias sem ocultar seus pensamentos e intenções. Político com vocação para o poder não se esconde, se mostra. E o eleitorado julga.

Outros só se revelam em termos de conveniências. A ala irista do PT acaba de avisar aos navegantes: na política vale tudo, menos beijo de língua nos antigos adversários. Sabe-se lá!?

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