quarta-feira, 16 de abril de 2008

O CERCO A MARCONI (III)

Ganha impulso a mobilização da máquina petista voltada para atender aos caprichos do governo Lula, inconformado com ousadia do então governador Marconi Perillo de alertar o presidente de que algo de podre estaria acontecendo no Palácio do Planalto, sob a batuta do então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. O resto da história, ou melhor, do monumental escândalo do “mensalão”, até as pedras já sabem.

Trazer à lembrança o episódio determinante na ruptura governador-presidente faz bem a todos. Permite que a sociedade, à distância, avalie as diferentes e divergentes concepções políticas. Ao alertar o presidente, Marconi sinalizou não compactuar com o erro, cumprindo seu papel de cidadão e sua responsabilidade de governador de Estado. O silêncio, depois de ter sido alertado pela deputada Raquel Teixeira seria, aí sim, um erro político, provavelmente fatal para sua carreira. O presidente Lula escudou-se no discurso da falsa ingenuidade, dizendo-se desconhecer os fatos. Contraiu o semblante, desautorizando seu interlocutor a prosseguir.

O mais irônico é que quando tudo ficou comprovado, Lula absolveu os mensaleiros – os 40 quadrilheiros denunciados pelo Procurador-Geral da República –,
e decretou que criminoso deveria ser quem denunciou o crime.

Portanto, chegou a hora do acerto de contas com quem tentou preveni-lo para que ele agisse de forma transparente, estancando o escândalo e punindo seus autores. Lula perdera ali a oportunidade de ser menos companheiro e mais guardião da moralidade pública. Optou pela Magna Carta petista em seu artigo 1º: Companheiro é companheiro, adversário é adversário. Aliás, foi em nome da coerência partidária que se baseou para a recomendação que Lula fez recentemente a seus ministros a fim de intimidar a oposição no Congresso por sua insistência de ouvir a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil –sempre ela - embrulhada no dossiê contra FHC. Ele foi enfático: “Temos de esmagar a oposição”.

Também lá no Senado Marconi está metido nessa cruzada de esclarecimento do novo escândalo dos cartões corporativos. Também lá o presidente segue os passos do senador, aumentando sua ira e estimulando seguidores e simpatizantes em Goiás a promover ataques pelos flancos para tentar abater o tucano.

Num dos flancos, a Prefeitura de Goiânia, a posição de ofensiva já está solidificada. O prefeito e o presidente já afinaram o discurso há tempo, com o testemunho de companheiro Maguito Vilela, deslocado para uma terceira frente de batalha: a disputa da prefeitura de Aparecida. Até aí tudo bem. Íris e Maguito são adversários do PSDB de Marconi e seus embates se dão de forma clara, mobilizando-se os eleitores para a sagrada bênção das urnas.

Com a ostensiva colaboração do PT local o presidente tenta reforçar o que preconiza ser a segunda frente, mas tudo dependerá de como o governo goiano fará a leitura do episódio que pôs Marconi e Lula em trincheiras opostas. Preliminarmente, a leitura da sociedade é óbvia: Marconi denunciou e condenou a corrupção. Lula absolveu todos os companheiros envolvidos. Quer agora transformar em réu quem imaginou que, alertando Sua Excelência, o escândalo não fosse conspurcar seu currículo e ainda pôr às claras um estranho conceito de ética, que é o artigo 2º da Carta petista. Aquele que determina em seu parágrafo 1º o perdão a quem assalta o erário e no parágrafo 2º condena quem denuncia o assaltante.

Sob o ponto de vista administrativo governador e presidente devem e precisam se entender. Politicamente é uma outra história até porque qualquer decisão tem sua gama de implicações em cascata na incontida dinâmica da ação e reação.

Enquanto não se tem melhores indicativos de como os essa cruzada anti-Marconi vai terminar, há um bom campo para as análises políticas, onde a perspicácia dos analistas é que permitirá separar o joio do trigo, com a desejável isenção. Pelo menos já é público que um senador eleito com mais de dois milhões de votos está rotulado de inimigo pessoal e na mira de um forte aparato sob o comando do presidente da República. O mesmo comandante que perdeu a grande chance de abater um a um o seu pelotão de aloprados. Assim, poderia vir palmilhar o novo campo de batalha com a moral bastante elevada.

2 comentários:

Unknown disse...

Gostaria muito que se falasse nas contas deixadas por este hoje Senador da República, queria entender, mas que não haja contradição, porque o governo parou durante 2 anos e agora voltou a andar novamente? Culpa do atual Governador? Ou o anterior gastou demais para poder reeleger Alcide e o povo Goiano não ficar sabendo do buraco deixado pelo Sr. Lisura. Isto eu queria saber? Seria possível Sr. Fleurymar de Souza? E o Sr. como jornalista respeitado no meio, aceitar o fechamento de um meio de comunicação por este mesmo Senador! Quanto políticas de alianças elas devem existir, só não concordo com o termo traição! isso pra mim é democracia! e quando diz fariseus eu queria entender quem são os fariseus! O sr está colocando o Senador como dono de goías, pois no meu ponto de vista ele ainda é só Coronel ! Um abraço!

Unknown disse...

Pela primeira vez visito o seu Blog. Parabéns pela iniciativa, tomara que você persevere, pois cuidar de um não é fácil, exige muita dedicação.
Quero lhe parabenizar também pelo artigo, pois há muito tenho notado um esforço concentrado de muitas lideranças partidárias para isolar o Senador Marconi Perillo e acredito que você lança luz sobre a questão de maneira muito sagaz e inteligente.
Grande abraço.

Gilvane Felipe