segunda-feira, 19 de maio de 2008

BIOCOMBUSTÍVEL X BOICOMESTÍVEL

Cai o símbolo do PT política e ecologicamente imaculado. A ministra do Meio Ambiente Marina Silva se retirou para não comprometer suas raízes. Quando teve seu nome confirmado, a repercussão internacional foi avalizadora do governo petista, por antecipação. Numa jogada de marketing, estrategicamente inteligente, Lula, antes da posse, anunciou a indicação de Marina em visita aos Estados Unidos. Calculista, escolheu a melhor ribalta, na certeza do mais amplificado eco.

Aos olhos dos ecologistas de todo o mundo a esperança sofrera, na ocasião, positiva gradação cromática. Saiu do suspeito vermelho petista para reluzir em verde amazônico nacionalista.Marina, Lula e ecologistas tinham motivos para a universal confraternização ao sabor do guaraná, filho dileto da imensa mata, politicamente a mais decantada, internacionalmente a mais cobiçada.

Já na posse, a ministra levantaria a bandeira do desenvolvimento sustentável, isto é, casando-se o avanço econômico com o aproveitamento racional da natureza. A vastidão virgem, verde e berço ecológico inigualável permaneceria intocável. Depredação zero das florestas tropicais era o sonho cor-de-rosa da mulher feita de um outro barro. Lamentavelmente, soçobrou na onda predatória do verde, em vista da estratégia camaleônica do Presidente. Antecipando-se à cobrança de coerência no governo, pelo menos em questões do meio ambiente, Lula se descobriu em pleno processo de mutação (biológica ou psicológica, não importa), vivendo o ciclo da metamorfose ambulante.

Tendo-se blindado para oscilar à vontade, convenceu-se de que a bandeira teria de ser outra: a do crescimento sustentado, facilitando a expansão do agronegócio, consequentemente, adotando a permissiva política do dilatamento das fronteiras para a produção daquilo que melhor lucro obtém lá fora. A demora na liberação de licenças ambientais sinalizaria não o zelo, mas descaso da ministra ante o novo lema: o avanço nas exportações a qualquer custo.

Resta lamentar a pressa que o governo imprime às suas decisões políticas, quando é para remover entraves à pressão dos grandes investidores. Não há mais dúvidas de que o capitalismo sem fronteiras se impôs, e agora poderá expor, sem resistência, o tamanho das suas necessidades, medidas em quilômetros quadrados de mais glebas livre das incômodas árvores. Blairo Maggi já se apresentou, com discurso adequado para encarnar uma versão tropical do Bin Laden das florestas. Experiências não lhe faltam e seu último empecilho foi removido.

Caberá à ex-ministra, além do figurino de mãe da natureza, tamanho é o reconhecimento internacional pelo seu trabalho, verbalizar sua indignação na tribuna do Senado. Tem disposição amazônica para denunciar a agressão ao meio ambiente. Muito acima e distante da predadora concepção do governador do Mato Grosso de que floresta preservada e crescimento econômico jamais conviverão num mesmo espaço.

Parte dos grandes investimentos se volta agora para a produção do biocombustível. A outra parte é para aumentar o plantel do boicomestível. Em ambas as alternativas, paira a certeza de que quanto mais áreas disponíveis para plantação de cana ou para o dilatamento das pastagens, mais florestas serão derrubadas. Muitos mananciais hídricos serão comprometidos. Já considerado o maior produtor de álcool e maior exportador de carne, como se garantir a expansão das exportações a não ser com o aumento de produção? O fato de sermos economicamente maiores não significa que seremos socialmente melhores. Bem, pelo que já se viu esse equilíbrio sócio-econômico era tão-somente tese de campanha.

Como temos aqui um dos jornalistas mais capacitados para tratar, dentre outros temas, do meio ambiente e seus correlatos, Washington Novaes - nacional e internacionalmente tão bem posicionado quanto a ministra -, é melhor parar por aqui. Esta não é, definitivamente, a minha praia. Aliás, continuo à deriva, mas hei de encontrar ou uma praia ou um porto. Até lá, convém remar, contra ou a favor da maré. Tanto faz. Meu S.O.S. por enquanto é só pelo verde.

Um comentário:

Unknown disse...

E desgastante seguir a fundo a historia da amazonia, simplesmente pelo fato de que muitos no Brasil ainda se concentram nas plumas das avestruzes usadas para o tao conhecido carnaval do Rio de Janeiro. Nesse grito carnavalesco aonde os meninos de rua e a miseria social deixam de existir nesses cinco dias de festa, pois o capitalismo grita mais alto.
Marina Silva nos deixou em mente o seguinte lema: O inimigo da floresta me secou as cordas vocais, meu poco ja nao existe mais agua, mas com umidade ainda terei oxigenio suficiente para respirar.
E assim deixou seu cargo. Cabe a vcs interpreterem a mensagem.
Ana Perlini

A situacao da nossa amazonia e nada mais do que uma