segunda-feira, 5 de maio de 2008

A IMPOSIÇÃO DOS FATOS

Praticamente já esgotei o tema - cerco a Marconi – mas é a sucessão de fatos coincidentes que nos força a especular em torno dele. Importa aqui registrar que a possibilidade da candidatura Henrique Meirelles, ao amparo do Partido Popular e sob o ostensivo estímulo de seus quadros, só vem confirmar a minha tese de que um movimento em pinça estaria em andamento. Tem numa das hastes a candidatura natural do prefeito Íris Rezende, com o reforço do PT que, pelo menos aqui em Goiás, vai adquirindo a fisionomia de agremiação de – não diria de aluguel – mas de locador eventual. Por duas vezes ficou de plantão à espera de melhor oportunidade. Por duas vezes adotou o recuo da candidatura própria para o oportunismo da carona no PMDB.

Foi assim quando Maguito disputou o governo em 2006 e ignorou a oferta de Valdi Camárcio como companheiro. É assim agora com o candidato Íris. Oportunismo sim, porque não houvesse a expectativa de vitória do PMDB, com certeza não haveria aliança tão surpreendente quanto esdrúxula. Houvesse no PT a segurança de chegar ao poder por seus próprios méritos, não haveria força humana ou popular capaz de obrigá-lo à parceria em rota inversa.

Sobre a candidatura Meirelles, uma vez confirmada, estará estabelecida a outra haste da pinça que objetiva, antes de tudo, estreitar o campo de manobra do senador Marconi para obstruir sua tentativa de volta ao governo. O esboço dessa nova candidatura, na periferia do poder por vir a ser ela condicionada ao suporte do PP – partido do governador – já pressupõe a ruptura entre criatura e criador, isto é, Marconi e o herdeiro natural do espólio político, com seus ônus e bônus, acumulado em três sucessivas administrações. Não mais se justificará tratar a questão com a dose subliminar de argumentos distorcidos da realizada à frente. Meirelles no centro da disputa do governo é a clara opção pela via da beligerância de um dos protagonistas que, vistos em parceria e em retrospecto são os arquitetos do tempo novo. Surpreendentemente, poderão ser convertidos a contendores por fatores, ora alheios à vontade própria, ora decorrentes de pressões e ambições grupais. Umas legítimas, outras nem tanto. Mais à frente se poderá delinear com que perfil ou armadura eles se porão frente a frente, tendo à retaguarda seus contingentes de apoio.

No momento, o que avulta como delineador dos movimentos políticos é a convergência dos interesses imediatos se sobrepondo a um roteiro político traçado a quatro mãos, ora submetido a interferências que levam, inevitavelmente, à sua fonte de inspiração: o Palácio do Planalto.Já não estou sozinho na constatação de que o presidente Lula extrapola o campo das disputas políticas, do choque de idéias e concepções administrativas, para investir pusilanimemente por razões pessoais sobre o senador.

Dado o alarme, tenho a companhia de jornalistas que se esforçam para retratar os fatos como eles são e porque são, a despeito das limitações a que estamos sujeitos. Que o presidente Lula não consiga discernir a oposição ao seu governo e os prejuízos causados à sua imagem por companheiros flagrados em desvios de condutas já é fato notório. Aos companheiros e possíveis aliados o beneplácido da anistia, a presunção da inocência, mesmo que a polícia ou a Justiça estejam ao encalço dos meliantes, digo, suspeitos. É Lula, o onipotente, a conferir divindade a quem de santo nada tem nem nunca terá. Também é notório que ele quer se vingar do senador pelas mãos de terceiros. Apesar dos pesares, convém buscar a elucidação dos fatos pela curiosidade que aguça muita gente. Particularmente, esse jornalista renitente só queria entender. Se fosse o caso, posteriormente tentaria explicar para meus eventuais leitores. Se os convenceria ou não, desconheço. Se são muitos ou poucos, também desconheço. Só sei que pela repercussão, minhas argumentações não têm sido em vão. Amém.

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