sexta-feira, 30 de maio de 2008

Escrevendo pelas orelhas


Martins Fontes / 210 pgs.


O embotamento que os saudosistas reiteradamente apontam na crítica de arte é algo que não tem vez nem espaço no trabalho de John Ruskin. Ao contrário, o texto deste esteta inglês talvez seja o ápice do envolvimento passional entre o crítico de arte e a obra em análise. Opositor contumaz dos emblemas da era Vitoriana, Ruskin permanece no imaginário dos continuadores do seu ofício como o exemplo de gênio a serviço do bom gosto e da moral. Em As Pedras de Veneza, um dos seus mais importantes trabalhos, o autor escarafuncha à exaustão as sutilezas arquitetônicas e históricas das pedras, paus, concreto e gôndolas espalhados pela cidade italiana. A influência deste livro no século XIX apenas começa no entusiasmo com que Marcel Proust o traduziria para o francês. Os escritos de Ruskin alimentam uma carga enorme de lugares-comuns com que as vítimas dos críticos procuram desdenhar das surras levadas por uma pena bem afiada. O fervor de algumas de suas idiossincrasias chega a ser caricatural, como na sua crença na decadência galopante de Veneza, ou como na sua rejeição ranheta às obras da Renascença. A acidez contra certas personalidades e hábitos ingleses do seu tempo lhe rendeu algumas censuras em diversas edições das Pedras. No que há de exagero, inclusive, o livro é um guia preciosíssimo para uma visita culturalmente minuciosa a Veneza, embora a edição em português continue esgotada.





Presses Universitaires de France/
128 pgs.



Simples e didático, La peinture italienne de Jean Rudel é mais um título da numerosa coleção francesa “que sais-je?”, que, abramos aqui um parênteses, aborda assuntos os mais distintos, e cuja emulação mais bem sucedida no mercado editorial brasileiro é a já clássica primeiros passos, da editora Brasiliense. Com o sucesso da empreitada, Luiz Schwarcz, então enfant terrible no mundo editorial nacional, saiu de lá foi montar a maior editora do Brasil, a Companhia das Letras. Fecha parênteses. O livro de Rudel, com a colaboração da historiadora de arte Sandra Costà, apenas raspa em discussões sobre pintores, suas escolas e estilos, deixando a desejar aos já mais profundamente iniciados no atávico universo pictórico italiano. Como apanhado histórico, tem o mérito de tratar com igual naturalidade tanto os rabiscos etruscos que introduziram a noção de arte na Roma antiga quanto os arroubos futuristas de Marinetti e seus seguidores, no início de século XX, o que, levado ao excesso, quase coloca o sorriso de La Gioconda de Da Vinci no mesmo patamar de um afresco qualquer produzido na década de 60.







Difel/ 280 pgs.


Estruturado em verbetes que facilitam a consulta rápida, 50 pensadores contemporâneos essenciais – do estruturalismo à pos-modernidade salvam o leitor da ignorância completa sobre o legado de diversos expoentes das ciências humanas, de Barthes a Sartre, de Hanna Arendt a James Joyce. A seleção dos nomes é, obviamente, arbitrária e nem um pouco exaustiva, com destaque a uma maioria de franceses e com a inclusão de alguns nomes questionáveis em razão do grau de importância. A ênfase na linhagem estruturalista denuncia o prisma intelectual do autor John Lechte, que tem como pálido cartão de visitas o fato de ter sido aluno de Julia Kristeva. Mesmo com as limitações evidentes, as menções aos pensadores têm valor por serem bem menos biográficas e bastante mais críticas do que se encontraria nos volumes empoeirados da Enciclopédia Britânica.

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