Para que ter tanta pressa no trânsito? Todas as ruas de Goiânia levam ao engarrafamento. Hoje, menos que amanhã. Portanto, antes de sairmos de casa dirigindo nosso próprio carro, façamos a escolha entre uma dose de sensatez ou o descompromisso implícito na mensagem “deixe a vida me levar”. Já em meio ao caos dos engarrafamentos o que seria mais recomendável? Explicitar nossa neurose ou nos transformarmos todos em filósofos especializados na análise do comportamento humano?
No dia-a-dia das ruas conflagradas pelo excesso de veículos e de gente estressada pela pressão do espaço e do tempo é que se conclui: o ser humano é o animal diferenciado dos demais pelos inúmeros defeitos da somatização.
Os demais animais instintivamente agridem por três fatores inevitáveis, incorporados à sua natureza: fome, defesa e reprodução. No ser humano, o animal mais imperfeito, nossa maneira de pensar e interagir foi se modificando pelas pressões e demandas sociais que nos colocam permanentemente no campo das disputas não só pela sobrevivência, mas por um conjunto de fatores que individualiza a maneira de se enxergar e se projetar no seio da sociedade.
No trânsito trava-se a batalha para se andar na frente, com o argumento de que se tem mais pressa, de que se está a bordo de um veículo mais potente ou tem-se a prerrogativa do cidadão com mais direitos e menos obrigações de ater-se às regras impostas para todos. É a rua o melhor reflexo do indivíduo e sua visão do conjunto da sociedade, principalmente a que está visivelmente refletida num dos mais caracterizados painéis do consumo em massa, desobrigando a matriz da invenção de qualquer responsabilidade quanto às conseqüências da produção em crescente escala.
O contexto conturbado da massa motorizada potencializa sua energia e os impulsos hostis, fazendo do trânsito intenso o campo experimental para vivenciar os diversificados perfis do dito cidadão, padronizado na posse de um singular bem de consumo durável.
Não são os outros que estão errados, somos nós que não temos condescendências com as falhas com as quais nos habilitamos a dirigir em meio ao caos, e delas nos valemos quando nos favorecem. Na convulsão diária não há bons ou maus motoristas, há cidadãos e cidadãs mais e menos civilizados, mais ou menos estressados, mais ou menos tolerantes, mais ou menos estúpidos, mais ou menos inconseqüentes.
Estamos no melhor momento para a formação de grupos de motoristas solidários, compartilhando o transporte e atenuando, ou adiando, a situação inevitável à frente. Nenhum motorista, cidadão ou cidadã em primeiro lugar, depende da orientação da autoridade pública para modificar seus hábitos e facilitar a vida de toda a sociedade. Nenhuma autoridade tem a faculdade de conhecer o cidadão como ele mesmo pode se identificar e se auto-analisar através do uso cotidiano do bom-senso.
Ou paremos para pensar ou voltemos ao dilema que nos acua: ficaremos com as nossas neuroses ou seremos filósofos para a indispensável reavaliação dos nossos incorrigíveis defeitos humanos, tão perceptíveis nas ruas?
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