domingo, 25 de maio de 2008

FARINHAS QUE NÃO SE MISTURAM

A definição do nome que vai representar o Partido dos Trabalhadores na aliança com o prefeito Íris Rezende, tudo indica, só será feita no bojo de um consenso que obriga o PT a ser cabo eleitoral da reeleição do prefeito. A ala contrária ao acordo terá de se ajustar. A unção do nome para vice supera uma etapa, mas sugere que um “contencioso” político fica para discussão futura. PT e PMDB terão de traçar uma linha comportamental durante a ocupação da prefeitura pelo futuro vice, caso tudo se dê conforme as previsões das partes, porque a aliança visa dividendos mútuos a curto, médio e longo prazos.

Confirmada a reeleição de Íris, um fato plausível pelo cenário à frente, o modus operandi da campanha exigirá reajustes que permeiam os entendimentos de varejo, onde as conveniências políticas imediatas haverão de prevalecer acima de razões partidárias ou doutrinárias. Nem PT é aquela agremiação sectária nem PMDB pode ser tratado como a encarnação do oportunismo, dado o exemplo do partido no seu código fisiológico com o qual se credenciou, nacionalmente, a ser aliado incondicional dos governos federais.

Por deter expressiva bancada no Congresso e ser, em todo o país, o partido com maior capilaridade, ele desenvolveu um evangelho exclusivo para conseguir o milagre de jamais eleger um presidente, mas ser o maior beneficiário da vitória dos outros. Perde a cadeira presidencial, mas não perde a sombra que ela projeta pelo seu gigantismo técnico-burocrático e seu longo tentáculo político.

Na administração FHC e agora na gestão Lula, é o PMDB o fiel da balança para efeito de aprovar ou não medidas do interesse do governo. Em cada caso, a conta vem por um dos Estados, na cobrança de mais cargos federais, conforme o combinado. O PT, por sua vez e devido aos precedentes, despiu-se do sectarismo, do dogmatismo, abraçando com fervor revolucionário o pragmatismo como meio e como fim. Antes de chegar ao poder, tinha um bom discurso. Para permanecer no poder tem uma conveniente estratégia.

Por aqui, todo esse cacife político de ambos os lados será ponderado para a negociação de como o PT se prestará a trampolim para mais um mandato do prefeito e de como o futuro candidato ao governo, Íris Rezende, acenará com a contrapartida, uma vez conquistada a vitória ao governo. Tudo será discutido antes, seja no varejo, seja no atacado, levando-se em conta que quando estiver em pleno embalo da campanha de 2010, a retaguarda do virtual candidato Íris será a prefeitura sob o comando do vice, nascido da aliança de agora.

Supõe-se assim que a transferência do comando municipal será precedida de novos ajustes, definindo-se a correlação de forças entre PMDB e PT na ocupação dos cargos, o roteiro dos compromissos financeiros com empreiteiras e prestadores de serviços ao município. Importante, muito importante, será ajustar o calendário das inaugurações de obras às conveniências da campanha, canalizando dividendos eleitorais para o candidato. Mais importante ainda: nenhuma obra iniciada pela segunda gestão Íris poderá sofrer alteração em seu cronograma, de forma a serem inauguradas com placas e méritos tributados ao candidato do PMDB ao governo, ou seja, a prefeitura, sob o comando do PT, terá de seguir rigorosamente a cartilha redigida segundo a doutrina peemedebista.

O reconhecido autodidatismo do político Íris Rezende não permite que se perceba pendores amadorísticos em seu estilo de negociar entendimentos, sejam verbais, sejam escritos. De experiência para lidar com o poder e para assimilar a força política emanada do Palácio do Planalto o PT tem de sobra. E partirá desse cacife para estender seus domínios. Nenhuma aliança estaria condicionada à sua renúncia ao direito de alargar seus espaços. Muito pelo contrário.

Tudo remete às indagações: sendo o PMDB farinha de um único saco, e o PT farinha de um outro saco, o que poderá vir no desdobramento dessa aliança? Haverá química política capaz de misturar e confundir todos esses ingredientes políticos básicos para que tudo ocorra de acordo com o que sonham as partes? Ou haverá outras surpresas além do que comporta nossa vã especulação?

2 comentários:

Anônimo disse...

Fleurimar,
voltei ao mundo dos blogs.

Se puder, divulgue por aí.

http://afonsolopes.blog.uol.com.br/

Anônimo disse...

Gostei muito do seu blog!