Vivo, atuante, padrão de decência parlamentar, o senador Jefferson Péres, 76 anos, escreveu uma das mais exemplares páginas de atuação política, destacando-se pelos valores morais em meio à paisagem moralmente árida do Congresso Nacional. Ali permaneceu como a encarnação da ética, conseguindo angariar a unanimidade nacional em termos de reputação. Vivo, incomodou muitos dos seus pares pelo toque da diferenciação com que se impregnava para reafirmar sua postura crítica e independente, em relação a tudo que fosse de encontro a seus princípios. Tudo fazia no equilíbrio entre seus pontos de vista e a responsabilidade de falar em nome de ponderáveis parcelas do povo, sem meias palavras.
Não transigia em seus ideais nem teatralizava em sua resistência para efeito de retorno em mídia. Bastava a força da coerência com que encadeava seus argumentos e modulava sua voz nas circunstâncias em que era dramaticamente reclamada para verbalizar legítimos protestos, oferecer alternativas políticas ou denunciar os descasos públicos. Em cada intervenção, a marca da honradez.
Morto, Jefferson continua a incomodar: obriga políticos das diversas matizes a unificarem os sentimentos de pêsames, deixando nas palavras impressas a reverência ao parlamentar de caráter diferenciado pelas inúmeras qualidades. O lamento da classe política chama a atenção do país para a natural transcendência. De senador admirável Jefferson se credencia a monumento à exceção comportamental graças ao exclusivo perfil esculpido em vida pública.
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